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Mosquito lança “Quinhão” e reafirma seu lugar como um dos grandes nomes do samba atual

Novo disco mistura estilos, reafirma raízes e traz a força do improviso e da crônica cotidiana

Mosquito
O sambista Mosquito — Foto: Divulgação/Fernando Young

Mosquito não é mais só um apelido que ficou — é um nome que cresceu com o samba. Dez anos após lançar seu primeiro disco solo, o compositor carioca retorna agora com “Quinhão”, segundo álbum autoral, produzido por Pretinho da Serrinha e com apoio de Paula Lavigne e Caetano Veloso. O show de estreia aconteceu nesta sexta-feira na Casa Savana, no Centro do Rio.



Versador nato, criado nas rodas de partido alto, Mosquito faz de seu canto uma crônica viva das ruas, das dores e dos afetos que circulam entre a Ilha do Governador, onde nasceu, e o Vidigal, onde mora. Aos 38 anos, ele assume seu espaço com um trabalho maduro, versátil e profundamente conectado com o samba de raiz — sem abrir mão de caminhar por outras sonoridades, como o ijexá e a embolada.


“Quinhão” reúne dez faixas, sete delas assinadas por Mosquito. Entre elas, “17 de janeiro”, feita com Mart’nália e Teresa Cristina, e “Caranguejeiro”, parceria com Leandro Fregonesi. Há também espaço para um velho sonho: gravar “Desistiu de mim”, de Cezar Mendes, Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carminho. Já a faixa “Rabo de arraia”, só dele, traz uma reflexão sobre o racismo cotidiano com lirismo e altivez: “não é uma música que vitimiza”, resume.


Nascido Pedro Assad, Mosquito foi criado pela avó e descobriu o samba na adolescência. Aprendeu cavaquinho com um amigo e improviso no susto, em meio às rodas. Serviu no Exército, vendeu carro, pesquisou opinião na rua, passou por empregos temporários — mas a música nunca saiu do foco. “A música me tomou por inteiro”, conta.



Durante o tempo sem gravar, aprendeu violão e guardou músicas “nas gavetas”, testando parte delas no Beco do Rato, onde mantém uma roda às quintas há mais de uma década. Pretinho da Serrinha fez questão de manter no disco o mesmo espírito: “sem teclado, sem bateria, pra ele não sair do lugar que habita”.


A identificação com o samba é total, mas também é política. Mosquito se reconhece como homem negro, mesmo com pele clara: “É o que a rua me diz”, afirma. “Ando de chinelo na Zona Sul, e tem senhora que fecha a bolsa.” Essas dores viram música, viram arte — mas sem lamentação. É samba com nariz em pé.


Caetano Veloso chegou a cogitar gravar “Só por hoje”, do primeiro disco de Mosquito, mas mudou de ideia: “Fica bonito mesmo é com Mosquito cantando com sua voz pura e límpida”.



E é assim que ele volta agora. Com samba, com palavra, com verdade. Seu quinhão de arte — entregue com precisão e sentimento.



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