Morre Angela Ro Ro, ícone da música brasileira, aos 75 anos
- Marcello Almeida
- há 5 dias
- 2 min de leitura
Angela Ro Ro partiu, mas sua voz — rouca, cortante e ao mesmo tempo delicada — continua como lembrança viva de que a música é feita de coragem e vulnerabilidade

A música brasileira perdeu nesta segunda-feira (8) uma de suas vozes mais singulares. Angela Ro Ro, cantora, compositora e figura marcante da MPB, morreu aos 75 anos no Hospital Silvestre, no Rio de Janeiro, onde estava internada desde julho para tratar uma grave infecção pulmonar. A informação foi confirmada pelo portal G1. Ainda não há detalhes sobre velório e sepultamento.
Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves em 1949, no Rio, ganhou cedo o apelido Ro Ro, devido à voz rouca que se tornaria sua marca registrada. Sua trajetória, no entanto, foi tão intensa quanto difícil: de experiências na Europa nos anos 1970, quando trabalhou como garçonete e tocava em pubs londrinos, ao retorno ao Brasil, onde Glauber Rocha a indicou para participar do disco Transa (1972), de Caetano Veloso.
Em 1979, lançou o primeiro álbum, Angela Ro Ro, inteiramente autoral, que trouxe clássicos como Amor, meu grande amor, Balada da arrasada, Agito e Uso e Tola foi Você. Com sua escrita franca, ácida e profundamente emocional, rapidamente se destacou como uma das compositoras mais autênticas da geração. Ao todo, lançou dez discos, sendo Selvagem (2017) o último registro de estúdio.
Angela viveu a vida e a carreira com intensidade, enfrentando problemas com álcool, dependência química e polêmicas públicas. Sua voz grave, porém, sempre carregou uma vulnerabilidade rara, capaz de expor dores pessoais em canções que se tornaram confessionais coletivos. Nos últimos anos, precisou recorrer às redes sociais para pedir ajuda financeira, dependendo de doações e de pequenos repasses de direitos autorais para sobreviver.
Ainda assim, seguiu como referência de coragem e originalidade, mantendo a chama criativa mesmo diante da adversidade. Sua obra, marcada pela visceralidade e pela entrega sem filtros, permanece como testemunho de uma artista que nunca teve medo de ser intensa demais, humana demais, verdadeira demais.
Angela Ro Ro partiu, mas sua voz — rouca, cortante e ao mesmo tempo delicada — continua como lembrança viva de que a música é feita de coragem e vulnerabilidade.
“Eu não era uma fútil, louca, leviana, não, mas não era engajada. A gente tava mais no paz e amor. Catava lixo na praia, sabe?"
Comentários