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Mayombe, de Pepetela, é um romance importante na literatura africana que retrata o processo de independência de Angola

Atualizado: 25 de jan.

“Queremos transformar o mundo e somos incapazes de nos transformar a nós próprios. Queremos ser livres, fazemos a nossa vontade, e a todo o momento arranjamos desculpas para reprimir os nossos desejos”. (Trecho do livro)



A arte e cultura africana é rica em muitas produções culturais, como diz Gilberto Gil: 'A África é um continente digno e nobre, fonte inesgotável de alegria e júbilo.' Em Angola, por exemplo, temos um país cheio de manifestações artísticas que fazem desse pequeno país, localizado na região da África Central, uma região cheia de prosperidade. Entre as artes mais apreciadas e produzidas está a literatura, que é bastante realizada desde antes da proclamação da Independência do país, que foi consolidada em 1975.

 

Um de seus livros mais famosos, 'Mayombe', é um romance fascinante que ressalta a importância de pesquisar sobre a África e os países que a compõem. Ele incentiva um aprofundamento no conhecimento sobre essas nações, explorando não apenas aspectos culturais interessantes, mas também oferecendo visões únicas. Esta obra literária atende muito bem a esses critérios, ao apresentar perspectivas pessoais e profundas de um escritor que valoriza as raízes de seu povo. Ela destaca a importância de adotar uma visão universal para compreender o mundo e mostra as lutas da vida de forma verídica.

 


'Mayombe', escrito por Pepetela, oferece uma visão penetrante dos meandros da Guerra de Libertação de Angola. Com uma riqueza de detalhes, o livro explora profundamente as complexidades humanas em tempos de conflito. Escrito entre 1970 e 1971 e publicado posteriormente em 1980, este romance é uma obra-prima da literatura angolana. Ele apresenta uma narrativa poderosa que transcende fronteiras geográficas, abordando questões universais de identidade, lealdade e os desafios da independência.


A história de 'Mayombe' se desenrola na densa selva do mesmo nome, onde guerrilheiros lutam pela independência de Angola. Pepetela, pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, um ex-militante do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), confere uma autenticidade palpável à narrativa. O autor mergulha o leitor nos desafios e dilemas enfrentados pelos guerrilheiros, proporcionando uma visão íntima do conflito.


Pepetela é um dos grandes nomes da literatura africana e um ilustre representante da arte de Angola. Sua literatura se destaca ao trazer a história contemporânea de Angola, refletindo os problemas sociais que o país enfrenta. Ele valoriza a História como meio de narrar fatos e exaltar a importância de conhecer a cultura originária angolana.



Os personagens de 'Mayombe' são complexos e multifacetados, refletindo as diversas motivações que impulsionam a luta pela libertação. A narrativa é entrelaçada com mitos e tradições locais, proporcionando uma riqueza cultural única. Pepetela explora habilmente as tensões entre os ideais do grupo e as realidades brutais do combate. Sua abordagem apresenta uma visão equilibrada e nuançada do movimento de independência.

 

A prosa de 'Mayombe' é densa e poética, capturando tanto a exuberância quanto a hostilidade da selva. Nela, a natureza é quase personificada, tornando-se um personagem adicional na trama. A escrita de Pepetela frequentemente alcança níveis líricos, ao mesmo tempo que retrata a crueza da guerra com realismo. Uma obra de leitura desafiadora, porém recompensadora, que exige a atenção plena do leitor para desvendar suas múltiplas camadas e absorver completamente sua mensagem. O livro não apenas documenta um período crucial da história angolana, mas também oferece reflexões atemporais sobre as complexidades da luta pela liberdade, independentemente de onde ela ocorra.

 


A obra brilha em autenticidade e profundidade, embora sua densidade narrativa possa ser um desafio para alguns leitores. Contudo, é exatamente essa densidade que confere ao livro sua riqueza e impacto duradouro. 'Mayombe' demonstra ser uma leitura essencial não apenas para Angola, mas para todo o continente africano, que merece ser cada vez mais reconhecido por suas belezas e pela grandiosa quantidade de artes produzidas em seus 54 países. Ao mesmo tempo, o romance apresenta camadas atemporais que ressoam globalmente. Como expressa a música 'Comida', da banda brasileira Titãs: 'A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída para qualquer parte.' Este verso encapsula o desejo universal por uma experiência cultural rica e diversificada, algo que Pepetela oferece com maestria.


 

Mayombe

Pepetela


País: Angola

Ano: 1980

Páginas: 248



 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Descrição do autor:


Pepetela nasceu em Benguela, Angola, em 1941. Licenciou-se em Sociologia, em Argel, durante o exílio. Foi guerrilheiro pelo MPLA, político e governante. Desde 1984 que é professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e tem sido dirigente de associações culturais, com destaque para a União dos Escritores Angolanos e a Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. A atribuição do Prêmio Camões (1997) confirmou o seu lugar de destaque na literatura lusófona.

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