Lucy Dacus, 'Home Video': um lindo e capitoso disco perdido em 2021.
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Lucy Dacus, 'Home Video': um lindo e capitoso disco perdido em 2021.

Atualizado: 30 de ago. de 2022



O sentimento e a emoção de descobrir um som novo é imensurável. Aquela sensação vibrante que corre por nossas veias e sentidos, renova nossa esperança na vida, já tão saturada de coisas banais. No fim do ano de 2021 pra início de 2022, descobri um som celestial e cativante, Lucy Dacus e sua voz meiga, nostálgica e amanteigada que flutua docemente por canções comandadas por um agradável Indie Rock, daqueles pensativos, reflexivos e confessionais que exploram o íntimo e coletivo, sim, é praticamente impossível não se identificar com as composições profundas de Lucy. A moça serena que emergiu da cena Indie da Virgínia por volta da década de 2010, ela ultrapassou e rompeu barreiras com seu Indie Pop lúdico e fascinante apresentado no primeiro single “I Don’t Wanna Be Funny Anymore” do seu primeiro disco intitulado ‘No Burden’ de 2016, onde ela já demonstrava seu talento para composições alegres e sinceras.


A maneira como Dacus usa a palavra para contar suas histórias por linhas líricas e distintas, agrada logo de cara. Em 2018, chegou o soberbo e bonito ‘Historian’, seu segundo disco aclamado pela crítica, público e logo em seguida no mesmo ano ela fez parte do Boygenius um grupo de Indie Rock independente formado por Phoebe Bridgers e Julien Baker. Isso prova o quanto as mulheres sempre estiveram presentes com seu som autêntico e criativo na cena Indie Rock e Indie Pop, lançando discos cada vez mais bonitos, ressaltando o poder do feminismo na cultura pop. Não é estranheza alguma e nem para ninguém que as mulheres e seu Indie estão anos-luz, na frente do Rock comodista masculino que insiste na mesma fórmula batida. E não tenho receio algum em dizer que ‘Home Video’ terceiro e mais recente disco de Lucy Dacus enaltece ainda mais o Rock feminino. Baita disco! Entraria com certeza em minha lista de melhores do ano se tivesse achado essa preciosidade a tempo.


Home Video simplesmente funciona como a consagração de uma artista brilhante e honesta em suas canções, o disco inicia pulsante e vibrante com a ótima “Hot & Heavy” com vocais que ficam impregnados na alma, guitarras pontuais e certeiras, que se tornam uma ode aos bons sons do Indie Rock. Uma entrada afetuosa e cintilante que consagra uma jovem compositora com o seu melhor disco até o momento. Apesar desse que vos escreve ter caído de paixões por ‘No Burden’ e seus pontos viscerais e urgentes. Home Video é mais seguro, equilibrado e maduro. Um conjunto de nuances, acordes e versos envolventes, uma verdadeira lição de vida, descrita em canções sentimentais, melancólicas e por hora perturbadas. Tudo vai conforme a emoção e sentimento de cada música. Dacus assume seu melhor desempenho em tempos. “Christine” é uma canção Pop mais lenta que sabe cativar com sua melodia enxuta e precisa.

Um ponto alto de Lucy Dacus é sua voz deliciosamente meiga, doce e suave como a neve. Uma canção precisa ser sentida e não apenas cantada e ela faz isso com tanta magia e segurança que vai tornando esse disco um verdadeiro clássico Pop.

Uma sequência de ótimas canções que prevalecem até o fim do disco. “First Time” oferece um verdadeiro Indie Rock, cheio de adrenalina e emoções. Uma coleção coesa e comovente de histórias que resgatam tempos de sua adolescência em Virgínia. Home Video parece desaguar pelas mesmas águas de ‘The River’ do seu herói Bruce Springsteen. De maneira brilhante, Lucy vai desbravando seus primeiros romances, sua experiência com a religião e brinda a beleza de verdadeiras amizades. Apesar de serem lembranças do passado ela as introduz em seu presente como se reacendesse as páginas de antigos diários.


O difícil mesmo e não se entregar a devastadora "Thumbs” e suas camadas atmosféricas. Uma canção que fala sobre reencontros, saudades e amizades. Narrando uma jornada de um amigo em busca de reencontrar o pai que há tempos não via. Entretanto, ela faz isso totalmente de forma emocionante e verdadeira. “Going Going Gone” passa aquele ar caseiro, uma canção acústica - como aquelas a beira da fogueira, cercados por amigos. A faixa conta com a participação das amigas Phoebe Bridgers e Julien Baker.


Um dos melhores discos do ano passado o qual eu passei totalmente batido. Dacus reuniu todas suas histórias em faixas que parecem capítulos de suas lembranças de como era sua infância e adolescência, e podemos nos sentir felizardos por isso. Home Video é um disco que vai perpetuar por muito tempo em nossas vidas. Se você ainda não ouviu isso aqui, aconselho a parar tudo que está fazendo e dê o play em Home Video. A experiência é no mínimo inspiradora e revigorante.

 

Ficha Técnica:

Artista: Lucy Dacus

Álbum: Home Video

Gênero: Indie Rock e Indie Pop

Data de Lançamento: 25 de junho de 2021

Ouça: "Hot & Heavy", "First Time" e "Going Going Gone" e todas as outras.

Para quem gosta de: Phoebe Bridgers e Sharon Van Etten



 

Ouça no Spotify:


 

Veja o vídeo de "Thumbs" abaixo:


 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com


 







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