Irvine Welsh diz que nova sequência de Trainspotting é um antídoto contra um mundo tomado por ódio e veneno
- Marcello Almeida

- 13 de jul.
- 2 min de leitura
Se Trainspotting foi um soco no estômago, talvez sua sequência seja o respiro — ainda que ácido — de que a literatura precisa agora

O escritor escocês Irvine Welsh descreveu nesta sexta-feira (11) sua mais nova obra, Men in Love — sequência direta de Trainspotting — como um antídoto contra um mundo tomado por ódio e veneno. O livro será publicado em inglês no próximo dia 24 de julho e se passa na Escócia entre o final dos anos 1980 e o início dos 1990, retomando a história exatamente de onde o romance original parou.
Publicado há mais de trinta anos, Trainspotting apresentou ao mundo a gangue disfuncional formada por Mark Renton, Sick Boy, Spud e Begbie — quatro anti-heróis que enfrentavam o tédio e a desesperança das ruas de Edimburgo mergulhados em drogas e escapismo. A história ganhou o mundo em 1996 com a icônica adaptação cinematográfica dirigida por Danny Boyle, com Ewan McGregor no papel de Renton. Em 2017, veio a continuação, T2 Trainspotting, também dirigida por Boyle.
Desta vez, no entanto, Welsh quis mudar o tom.
“Vivemos em um mundo que parece cheio de ódio e veneno. É hora de eu me concentrar mais no amor, como uma espécie de antídoto contra tudo isso”, disse o autor em entrevista à BBC.
Ele também vê paralelos inquietantes entre os anos 90 e o presente. O fim da indústria pesada — como os estaleiros de Leith, em Edimburgo — nos anos 80 lançou uma geração no desemprego, redefinindo o que significava trabalhar.
“Agora todos estamos nessa situação. Não sabemos quanto tempo teremos trabalho remunerado, se é que o teremos, porque nossa economia, nossa sociedade, está em uma longa transformação revolucionária”, afirmou Welsh, acrescentando que enxerga tendências “muito distópicas” no mundo de hoje.
Crítico ferrenho da era digital, o autor também não poupou palavras sobre o impacto das tecnologias emergentes e das redes sociais na sociedade contemporânea.
“Por um lado, temos a inteligência artificial e, por outro, uma espécie de estupidez natural. Estamos nos tornando máquinas idiotizadas que recebem instruções”, disparou. “E quando as máquinas pensam por você, seu cérebro atrofia.”

Com Men in Love, Irvine Welsh quer reequilibrar a equação: explorar a força regeneradora do amor num cenário que, mais uma vez, parece prestes a ruir. Se Trainspotting foi um soco no estômago, talvez sua sequência seja o respiro — ainda que ácido — de que a literatura precisa agora.















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