25 de jul. de 20243 min de leitura

Fúria Primitiva traz a tradicional vingança como tema em meio a questões sócio-políticas e pancadaria

Com a ousadia de Patel, esta é uma produção digna do cinema de ação, com muito a dizer e marcante em sua estreia

Dev Patel é um ator britânico cujos pais são indianos. Embora tenha feito sua estreia ainda novo no cinema, ele ficou bastante conhecido no papel de Jamal Malik no aclamado filme vencedor de 8 Oscars, Quem Quer Ser um Milionário (2008) de Danny Boyle. Na época então, Patel estava com 18 anos de idade.

Entretanto, a carreira do ator continuou firme. Atuou também em produções interessantes como O Exótico Hotel Marigold (2011) e Lion: Uma Jornada para Casa (2016). Fúria Primitiva (Monkey Man, 2024) chega como um desafio e tanto na vida do britânico. É o seu primeiro filme como diretor. Ele também atuou no roteiro ao lado de Paul Angunawela e John Collee.

Além disso, a produção conta com o renomado Jordan Peele (Get Out, 2017). O elenco é composto por nomes de peso como Pitobash (ator e produtor bastante conhecido na ìndia) e Sharlto Copley que contracenou em Distrito 9 de 2009 (aqui fazendo o papel de um charlatão que apresenta as lutas).

Muito da película vai expressar os gostos, hobbies e lembranças de Patel. As histórias contadas pelos mais velhos de sua família que ele ouvia desde criança, filmes de Bruce Lee e do cinema coreano que tanto curte, a aproximação com Bollywood e sua prática do Taekwondo, esporte que treina desde os 10 anos de idade.

O filme não escapa da premissa bem clichê do cinema até hoje, sobretudo em filmes de ação e de faroeste. Aquele personagem que sofreu bastante quando criança presenciando eventos trágicos e que agora, adulto, sai atrás de vingança. Sim, um tema que nunca saiu de moda e que é o carro-chefe da produção.

Entretanto, como Kid (Dev Patel) elabora sua estratégia de chegar até os responsáveis pela sua infância traumática é que se destaca. Ele participa de uma arena clandestina. Com sua máscara de macaco, perde em lutas manipuladas para poder ganhar dinheiro. Porém, sabe que roubar uma bolsa de uma arrogante milionária dona de um hotel pode dar início aos seus planos de vingança.

Essa cena do roubo, inclusive, garante logo nos primeiros minutos que o filme renderá muita correria e ação. Uma câmera ágil acompanha todos os figurantes que, furtivamente, em conjunto, roubam a bolsa da mulher para que o objeto chegue até Kid.

Fúria Primitiva a todo instante dialoga com questões político-sociais. O próprio hotel luxuoso que Kid almeja fazer parte, esconde uma parcela de ricos e corruptos da sociedade que está chafurdada em drogas, prostituição e esnobismo. Entre eles, temos o chefe de polícia Rana Singh (Sikandar Kher).

Fora do hotel, o espectador acompanha um povo pobre e humilde que espera por uma renovação capaz de dar fim as desigualdades sociais e econômicas, o que parece não acontecer facilmente.

A escalada de Kid é brutal. Violência e pancadaria não faltam. As cenas de ação recebem coreografias repletas de adrenalina, sejam em espaços apertados (cozinha e banheiro), sejam em espaços abertos com direito a perseguições nos telhados e nas ruas da cidade.

Tipo de filme que, apesar de várias influências e referências (Bruce Lee, John Wick, Steven Seagal), ainda ganha tempo para causar algumas surpresas: que tal uma fuga num Tuk-Tuk turbinado?

Disposto a mudar sua vida de lutas arranjadas e tentar alcançar o topo do hotel, o personagem passa por um processo evolutivo e maduro de sua personalidade e de seu corpo. Isso envolve desde alucinógenos para voltar com suas memórias de infância até a dedicação com treinamentos pesados (muito criativa a cena em que ele treina acompanhando a percussão de um músico).

Um herói de carne e osso que aprendeu a crescer com as pancadas que recebeu na vida. Não tem descanso, não deseja parar com seus objetivos, todavia ainda mostre o quanto é tão frágil. Mesmo que ele chegue a questionar sobre sua ira, sabemos que sua cartada final está próxima de chegar e será de forma explosiva e impiedosa.

O ator chegou a fazer algumas cenas perigosas sem ajuda de dublês. Mas, seu esforço físico acabou lhe gerando algumas injúrias como mão e dois dedos do pé quebrados, além de uma infecção nos olhos. Isso certamente acaba sintonizando com a determinação do personagem na ficção, dada a intensidade de algumas cenas.

Mas talvez você ainda esteja se perguntando se mais um filme sobre vingança muda algo. Com o tanto de ingredientes adicionados que funcionam em conjunto (família, mitologia hindu, crítica social, justiça, amizade), certamente, compensa a sessão. Com a ousadia e coragem cinematográfica estreante de Patel, essa é mais uma produção com muito para dizer e digna do que o cinema de ação fez até hoje.