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De Edith do Prato a Pitty: as mulheres que traçam o mapa vivo da nossa música

Porque quando uma mulher brasileira canta, algo muito maior do que uma canção acontece

Cátia de França
Imagem: Divulgação

A música brasileira sempre foi terra fértil para vozes que transformam o tempo, dobram a história e fazem do canto uma forma de resistência, afeto e invenção. No meio desse território imenso, mulheres seguem firmando seus passos com força, lirismo e coragem — criando linguagens, desafiando estruturas, abrindo caminho. De diferentes cantos do país, com sotaques e sons distintos, elas compõem o mapa vivo da nossa cultura.



Aqui, reunimos mais sete dessas mulheres que, cada uma à sua maneira, expandiram a ideia do que é fazer música no Brasil. De Pitty a Edith do Prato, de Kátia de França a Fafá de Belém, passando por Adriana Calcanhotto, o que existe entre elas é mais do que talento: é pulsação coletiva, invenção radical, verdade que ecoa. Porque quando uma mulher brasileira canta, algo muito maior do que uma canção acontece.


Pitty — A voz que gritou por uma geração

Pitty
Reprodução/Redes Sociais

Surgida no começo dos anos 2000 com uma força avassaladora, Pitty quebrou paradigmas ao se tornar uma das primeiras mulheres a ocupar com protagonismo o espaço do rock nacional em pleno mainstream. Vinda de Salvador, com bagagem no hardcore e na filosofia, ela trouxe letras afiadas sobre opressão, identidade e feminismo, abrindo caminho para outras mulheres em um cenário ainda predominantemente masculino. Seu impacto ultrapassou a música: virou símbolo de representatividade e autonomia feminina numa nova era do pop rock brasileiro.




Adriana Calcanhotto — A canção em estado de poesia

Adriana Calcanhotto
Foto: Wikimedia/José Goulão.

Com uma carreira que atravessa décadas, Adriana Calcanhotto é uma das compositoras mais sofisticadas da música brasileira. Transitante entre a MPB, a poesia concreta e a música infantil, ela transformou suas inquietações artísticas em obras profundamente autorais, como Maritmo, Senhas. Artista que flerta com a literatura e a experimentação, Calcanhotto é uma referência de inteligência criativa, capaz de traduzir o Brasil em delicadezas, silêncios e formas.


Sua arte é reinvenção constante — entre o mar e o verbo.




Cátia de França — A estrela selvagem do sertão psicodélico

Cátia de França
Cátia de França. Foto: Murilo Alvesso

Poeta, compositora e multi-instrumentista paraibana, Cátia de França é uma das grandes figuras da música brasileira que o tempo começa a redescobrir com a reverência que merece. Seu disco de estreia, 20 Palavras ao Redor do Sol (1979), produzido por Zé Ramalho, traz influências de Jackson do Pandeiro, literatura de cordel, João Cabral de Melo Neto e da alma sertaneja psicodélica dos anos 70.


Com participações de Sivuca, Dominguinhos e Elba Ramalho, ela construiu uma obra à frente do seu tempo, feminina, arretada, profundamente brasileira. Cátia canta como quem planta — com raízes, vento e liberdade.



Edith do Prato — A realeza popular de um único instrumento

Edith do Prato
Imagem: Reprodução

Filha da cultura popular do Recôncavo Baiano, Edith do Prato transformou prato e colher em instrumento de percussão com identidade própria. Sem formação acadêmica, mas com uma escuta ancestral e uma pulsação única, ela construiu uma linguagem musical inconfundível, que atravessou gerações. Foi parceira essencial de Caetano Veloso e figura simbólica do movimento cultural de Santo Amaro da Purificação. Edith não cantava com palavras, mas com ritmo — e o ritmo dela virou voz, virou chão, virou história.




Fafá de Belém — A potência amazônica que conquistou o Brasil

Fafá de Belém
Imagem: Reprodução

Com sua voz imensa e presença exuberante, Fafá de Belém surgiu nos anos 1970 como intérprete de protesto e de paixão. Cantora que deu rosto e som ao Norte do país, ela foi fundamental para levar a cultura amazônica ao centro da música brasileira, transitando do brega ao erudito com autenticidade. Fafá é a diva que canta chorando e gargalhando, sem jamais perder a raiz nem a coragem.




Mart’nália — O samba com alma leve e coração aberto

  Mart’nália
Imagem: Divulgação

Filha de Martinho da Vila e herdeira de um legado profundo do samba, Mart’nália construiu seu próprio caminho com autenticidade, alegria e um swing que é só dela. Cantora, compositora e instrumentista, ela se destaca por imprimir um estilo leve e contagiante, unindo o tradicional ao moderno sem perder a raiz. Em discos como Menino do Rio, ela mostra que o samba também pode ser festa íntima, riso solto e liberdade. Mart’nália é aquela que canta como quem vive — e vive como quem canta.




Dona Inah — A senhora do samba que o tempo consagrou

Dona Inah
Foto: Joana Gudin / Divulgação

Nascida em 1935, Dona Inah é uma daquelas presenças que parecem atravessar o tempo com sabedoria e ritmo. Sua carreira floresceu tardiamente, mas com a dignidade de quem nunca saiu do compasso. Foi aos 69 anos que gravou seu primeiro disco solo, e desde então se tornou referência no samba paulistano, com voz firme e interpretação carregada de verdade. Dona Iná canta com a alma, com a história, com os pés fincados no chão da sua gente — como quem sabe que a arte, às vezes, só precisa de tempo pra florescer.





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