O filme faz questão de mostrar algo que é importante para todos nós: as memórias.
Aporia (em grego: Ἀπορία, “caminho inexpugnável, sem saída”, “dificuldade”) é definida como uma dificuldade, impasse, paradoxo, dúvida, incerteza ou momento de contradição que impedem que o sentido de um texto ou de uma proposição seja determinado. Ao estudo das aporias designa-se de aporética.
Para saber mais sobre o termo, acesse o Wikipedia.
Atenção, texto contém alguns SPOILERS!
Já é conhecida por todos a teoria que o simples bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas. E essa máxima frequentemente é aproveitada no cinema, em filmes cujas narrativas envolvem alterar eventos do passado mudando o tempo presente/futuro trazendo consequências, frequentemente desastrosas para alguns personagens.
Produções como Os Doze Macacos (1996), Donnie Darko (2000), Efeito Borboleta (2004) e De Volta Para o Futuro (1985, 1989 e 1990), em sua trilogia perfeita trouxeram para as telas uma narrativa inteligente trabalhando com passado e futuro que até hoje são referências para qualquer cinéfilo ou para algum diretor novato que queira trabalhar dentro da mesma perspectiva.
Aporia, do diretor e roteirista americano Jared Moshe, chega com essa ideia, entretanto, adiciona alguns elementos diferentes, mesmo sem muitas explicações, nessa visão de alteração do passado na tentativa de um futuro com mais vantagens.
Sophie Rice (Judy Greer) sofre com a perda de seu marido Malcolm Rice (Edi Gathegi). Ela agora precisa enfrentar esse momento cuidando tanto de seu emprego como de sua filha Riley (Faithe Herman). A menina não aceita muito bem a morte do pai, vivendo em estado depressivo, sendo apática e agressiva com a mãe.
Entretanto, Jabir Karim (Payman Maadi), um amigo físico da família, traz uma alternativa. Alterar o passado do trágico evento través de uma máquina que ele construiu dentro de sua própria casa. Aqui que chega a diferença: a máquina é capaz de matar o causador da tragédia, neste caso, o motorista bêbado que atropelou o esposo de Sophie. Basta colocar a data e as coordenadas, o passado está alterado.
Mas não espere um filme de idas e vindas entre passado, presente e futuro. Após a máquina agir, Sophie tem sua vida mudada com a volta do marido. Entretanto, e claro, sabemos que algumas recompensas chegam com consequências. O espectador que esperar essa transição entre narrativas distintas de espaço-tempo, pode se sentir frustrado.
Outra novidade aqui é que, uma vez alterado determinado evento, a máquina não pode mais mudá-lo novamente, ao contrário do que acontece com Marty McFly (Michael J. Fox) em De Volta Para o Futuro 2 (1989) onde o personagem chega a coexistir com ele próprio no mesmo espaço-tempo.
Também é a hora exata da trama apresentar novos personagens e começar a trabalhar com seus argumentos, embora muitos não sejam bem construídos: ética, tecnologia, moralidade, mortalidade e o preço da felicidade.
Numa espécie de ciclo viciante e alternativo, por que não usar a máquina novamente para alterar tudo o que não concordo dentro do passado da minha vida? O espectador, certamente, terá os mesmos dilemas e conflitos emocionais da personagem.
A dor de Sophie, antes pela perda do marido, passa a ser pelas consequências de sua decisão de reverter o passado. Numa mistura de Drama, Romance e Sci-Fi, o filme falha em querer abraçar muitos temas e questionamentos sem um encaixe preciso e firme para amarrar melhor sua narrativa.
Destaque fica para a química correta entre o casal Malcolm e Sophie em boas atuações de Edi Gathegi e Judy Greer. O elenco mirim, bem apoiado nas interpretações de Faithe Herman e Veda Cienfuegos, também adiciona um peso ao filme, conferindo uma dose extra de carisma, piedade e de sentimentalismo pelos eventos que ocorrem após o uso da máquina.
Seja no início, seja no fim, o filme faz questão de mostrar algo que é importante para todos nós: as memórias. São elas que ficam quando o luto, a perda e os traumas se apoderam de nossos corações. Remédios para nossas dores. Essas passagens são bem bonitas em cenas de pura sensibilidade, convenhamos.
Mudar o passado não vai consertar as coisas de forma perfeita, Aporia é mais um filme que ressalta essa verdade. Pode reparar em parte nosso lado, porém afeta a vida do outro e até de tudo ao nosso redor. E o final, embora em aberto e apto a várias interpretações, deixa um pensamento de que o futuro sempre é algo que está em elaboração e que o passado talvez seja melhor continuando intocável.
Aporia - Sem Saída
Aporia
Ano: 2023
Direção: Jared Moshe
Roteiro: Jared Moshe
Elenco: Judy Greer, Edi Gathegi, Payman Maadi, Faithe Herman
Gênero: Drama, Ficção científica
Duração: 104 min
País: EUA
NOTA DO CRÍTICO: 6,5
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