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Apesar das ótimas atuações e ambientação, 'O Pálido Olho Azul' deixa a sensação de ter faltado algo

O novo filme de Scott Cooper apresenta um detetive impróspero e um jovem poeta se unindo para investigar uma série de brutais assassinatos

Crédito: SCOTT GARFIELD/NETFLIX


Edgar Allan Poe, emblemático autor de histórias perturbadoras e góticas do século 19 como A Queda da Casa de Usher e O Poço e Pêndulo, não é de hoje que desperta um certo fascínio em novos escritores e cineastas modernistas. Talvez seja pelo fato do ícone ter morrido aos 40 anos sob circunstâncias misteriosas, seus últimos dias foram sucumbidos em uma intensa e mórbida escuridão quanto qualquer outro conto que ele escreveu. Poe é considerado o pai e precursor da história policial, muito antes de Arthur Conan Doyle ou Agatha Christie começarem a escrever.


Em O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eye), a modesta adaptação cinematográfica do diretor Scott Cooper para o aclamado romance de Louis Bayard de 2003, Poe surge como um jovem cadete em West Point, a célebre academia militar dos Estados Unidos no Vale do Hudson. Em uma manhã cinzenta e fria de inverno do ano de 1930, um cadete é encontrado morto, tendo seu coração tirado do corpo. Com urgência de resolver logo o mistério e apaziguar a situação para evitar danos irreparáveis ao nome da academia, seus líderes recorrem a Augustus Landor (Christian Bale) para solucionar o caso. Em meio ao decorrer das evidências, Landor contará com a ajuda de um cadete muito observador e de personalidade ímpar, Edgar Allan Poe (Harry Melling).



Tudo em O Pálido Olho Azul surge da atmosfera gótica do mundo da ficção e dá licença poética do diretor, com a exceção da presença de Poe em West Point quando tinha 21 anos.

Poe de Melling é o homem antes de se tornar o emblemático escritor, embora seja perceptível a presença das sementes e traços para quem se deleita com o sobrenatural e o lado sombrio da literatura. Nesse ponto o filme é gracioso e nostálgico por nos mostrar um pouco mais da vida de Edgar.


Apoiado pela Netflix e disponível na plataforma desde sexta-feira (6), O Pálido Olho Azul apresenta-se como uma grande e interessante surpresa para o streaming (tanto que está em primeiro lugar dos mais vistos da plataforma). A obra segue em ritmo mais lento, o que pode desagradar aqueles que desejam usar seus smartphones ou o controle remoto durante a exibição. A produção também traz nomes relevantes em papéis coadjuvantes como o querido Robert Duvall (O Poderoso Chefão), aqui dando vida a um especialista em símbolos. Ou Gillian Anderson, a ex-estrela de Arquivo X dando vida a uma esposa ressoante da alta sociedade.


Scott Cooper embasa seu filme através de uma excelente fotografia e ambientação que faz um uso excepcional do clima gélido e cinzento. As cenas onde temos a presença da neve, rios e florestas são totalmente ancoradas por cores sombrias e frias e isso ajuda a intensificar a urgência de se resolver um mistério. A presença de Bale é inquestionável, seu talento deixa marcas excepcionais, mas Melling rouba a cena, ele entrega uma atuação maravilhosa que consegue honestamente capturar os sentimentos, emoções e os conflitos enfrentados por Poe.



É justamente nesses pontos que encontramos algumas falhas de O Pálido Olho Azul, Scott deposita muita atenção ao personagem de Bale, como se ele fosse o centro e a chave para solucionar tudo no contexto do filme, fato que pode muito bem ser explicado pelo convívio de outras produções como Hostiles de 2017 e Tudo Por Justiça de 2013. Claro que também sabemos que a presença de Poe no longa está mais para uma peça do que para um protagonista. Mas o simples fato de conter o nome Edgar Allan Poe envolvido, desperta inúmeras expectativas aos amantes da clássica vertente gótica.


É possível também perceber uma certa insegurança de Scott em relação ao mundo do terror gótico, talvez pelo fato de o diretor não ter tanta familiaridade com gênero e ficar sem saber até aonde ir ou poder avançar. Abordar uma história de terror gótica é preciso mergulhar profundamente no que de fato é essa vertente. Nisso a história de O Pálido Olho Azul perde força e todo o potencial da obra é direcionado para Christian Bale e Harry Melling. Isso também não quer dizer que o filme seja ruim ou não vale a pena conferir. É que com essas brechas no roteiro deixa sempre aquela sensação de que está faltando algo a mais.


Até mesmo quando Scott parte para um terceiro e último ato decisivo, os desfechos apresentados para explicar e solucionar o mistério não é surpreendente e está longe de alcançar todo o potencial que está narrativa gótica tinha ao seu favor.


O Pálido Olho Azul não tem a mesma intensidade do material original, mas o mistério bem-apresentado de maneira intrigante nas ótimas atuações acaba sendo o propulsor para o telespectador chegar até o final. Não é um longa para todos, sobretudo se você quer que a ação seja intensa. Mas, para os admiradores de Poe, pode ser um prazer terrível e atroz.

 

O Pálido Olho Azul

The Pale Blue Eye


Lançamento: 2022

Gênero: Mistério, suspense, Terror Gótico

País: EUA

Direção: Scott Cooper

Roteiro: Scott Cooper

Elenco: Christian Bale, Harry Melling, Robert Duvall, Gillian Anderson

Classificação: 16 anos

Duração: 128 min


 

NOTA DO CINÉFILO: 6,5

 

Confira o trailer abaixo:


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