Marcello Almeida

15 de dez de 20213 min

'O Homem Que Caiu Na Terra' uma obra soberba que desenha um retrato fidedigno da nossa atualidade.

"O universo não foi feito à medida do ser humano, mas tão pouco lhe é adverso: é-lhe indiferente" (Carl Sagan)

'O Homem Que Caiu Na Terra', de Walter Tevis foi publicado a primeira vez em 1963, uma jornada científica bem respectiva que vai narrar os anseios, dores e a solidão de um extraterrestre que sai do seu planeta natal Anthea em busca de novos recursos para salvar seu povo, pois seu planeta já se encontra escasso de recursos próprios e ele simplesmente aterrissa na terra para executar sua missão.

A narrativa parte desse princípio quando esse ser chega no interior dos Estados Unidos adotando a fisionomia de um humano e passa a se chamar Thomas Newton. Não demora muito para que ele se torne um grande empresário e milionário, devido a toda sua inteligência e tecnologia que trouxe do seu mundo. Thomas tem o intuito de construir uma enorme maquina misteriosa e investe todos seus recursos nesse projeto.

O interessante da narrativa da obra é observar como Thomas apesar de toda sua inteligência e riqueza leva uma vida ordinária, sozinho e indiferente com a vida aqui na terra. Além disso, tem a saudade de casa que bate profundamente em sua memória. Sem falar que o sujeito sente muitas dores devido ao seu corpo frágil. A anatomia humana não condiz com seu esqueleto e ele sofre muito com isso.

De maneira intrigante o convívio com os humanos afeta Thomas de forma bem deprimente. Cercado de gente egoísta, individualista, gananciosa e maldosa e isso o, deixa ainda mais deprimindo e solitário, e ele acaba se entregando a bebida até mesmo como uma forma de anestesiar a imensa dor que sente nesse vazio proporcionado por esse, planeta chamado terra. Tevis usa de metáforas para tecer críticas a maneira destrutiva que nós humanos vivemos e usamos nossos recursos naturais. Newton não é um homem e tão pouco um alienígena. Um ser que habita entre essas duas circunstâncias e a medida que vai passando mais tempo na terra vai se tornando frágil, impotente e sem vontade própria. Quantas vezes nos sentimos assim? Sempre irão existir momentos onde seremos niilistas e apáticos ao mundo ao nosso redor.

Ser diferente no mundo onde vivemos já é excludente, e esse sentimento de exclusão afeta Newton de maneira gradual, ele se sente diferente dos humanos, mas a convivência com pessoas vai cada vez mais desencadeando aspectos e sentimentos que o tornam humano, seu mundo estava doente, morrendo e ele veio parar em um outro mundo ainda mais doente.

O Homem Que Caiu Na Terra não é um livro de suspense, ação ou aventura. É um conto de ficção científica que trata de assuntos existencialistas como o sentimento de solidão vivenciado pelo protagonista e sua perspicácia sobre a vida humana. Um livro que segue relevante e atual sobre as questões abordadas nele. E Walter Tevis foi primoroso na construção desse personagem. Tem uma parte nesse livro extremamente incrível e impactante e muito original. Aliás, o livro todo é uma obra fascinante do início ao fim. A maneira como Tevis tratou essa história emanado por uma escrita simplista, direta e pontual, torna a leitura cativante.

Sobre a edição da Darkside eu não preciso nem dizer ser magistral, é fabulosa. A dona caveira arrasa sempre. 'O Homem Que Caiu Na Terra' foi adaptado para o cinema pelo diretor Nicolas Roeg em 1976. Contou com a participação do ilustre David Bowie vivendo sua primeira experiência cinematográfica na pele de Thomas Newton.


Ficha Técnica:

O Homem Que Caiu Na Terra

Autor: Walter Tevis

Lançamento mais Recente: 2016

Editora: Darkside

Tradução: Taissa Reis

Gênero: Ficção Científica

páginas: 224

Publicação original: 1963

Obra adaptada para o cinema em 1976 (Nicolas Roeg)


Notas sobre o Autor:

Walter Tevis (1928-1984) nasceu em São Francisco, Califórnia. Foi professor de literatura na Universidade de Ohio e autor de romances e contos traduzidos em pelo menos 18 idiomas. Três dos seis romances que escreveu foram adaptados para o cinema: The Hustler (1959), The Color Of Money (1984) e o Homem que Caiu na Terra (1963). Este, dirigido por Nicolas Roeg em 1976, marca a estreia de David Bowie como ator. O filme logo se tornou um clássico e influenciou a cultura pop como poucas outras obras de ficção científica. Saiba mais em Waltertevis.com.


Sobre Marcello

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com


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