25 de out. de 20233 min para ler

Toc Toc Toc - Ecos do Além foge de ser original, mas é tenso e fideliza os medos de uma criança

Esse é um filme que vai apresentando diversas figuras tipicamente vilanescas que potencializam os medos de uma criança.

A figura infantil nos filmes de Terror é muito comum através dos tempos. Mas trabalhar com a infância dentro desse gênero pode ser algo delicado, nem sempre funciona, outras vezes rende filmes memoráveis.

Só para citar dois exemplos aqui que deram certo, poderíamos colocar The Babadook (2014) e a versão austríaca de Boa Noite, Mamãe (2014). Interessante que ambos os filmes não precisaram recorrer a uma carnificina gratuita para conseguirem sucesso entre público e crítica.

Samuel Bodin, responsável pelas séries T.A.N.K. (2016) e Marianne (2019), nos coloca diante da visão de um personagem infantil para tecer sua narrativa. Em Toc Toc Toc - Ecos do Além, acompanhamos o garoto Peter (Woody Norman) que passa a ouvir barulhos da parede de seu quarto, quando então, uma estranha voz passa a se comunicar com ele.

O destaque maior do filme fica por conta do ator Woody Norman, que também já havia feito uma ótima interpretação em Drácula - Última Viagem do Deméter (2023).

Esse é um filme que vai apresentando diversas figuras tipicamente vilanescas que potencializam os medos de uma criança, pretendendo, a princípio, ocultar o verdadeiro mal que se esconde e que está prestes a agir lá para o final.

A vida de Peter não é fácil, cercada de temores. Seus pais, Mark (Antony Starr) e Carol (Lizzy Caplan), são severos e autoritários na educação do filho, ocasionando um relacionamento bastante apático na família. Peter vive uma vida solitária, sofre calado com os constantes bullyings na escola, em estado de opressão, sequer tem direito a se manifestar.

Importante frisar como Antony Starr (que faz o Capitão Pátria na série The Boys) consegue aqui também passar um semblante de cinismo e descaso. Além disso, Brian (Luke Busey) é o aluno da turma que vive no pé de Peter e não lhe deixa ter um minuto de paz (tipo do colega de escola que evitaríamos ter).

Bodin prefere começar com uma trama mais enviesada no Suspense e no Drama. A melancolia do menino somada com o ambiente opressor no interior de sua casa e na escola angustia o espectador, realmente nos choca perante um cotidiano tenso e sufocador.

Os cenários oferecem uma dinâmica propícia para contribuir com essa atmosfera sombria: a pouca iluminação da rua, o quintal desleixado, um porão escuro que serve de prisão para os castigos que Peter recebe, a solidão do quarto do garoto. Para agravar a situação, os pais de Peter comentam sobre uma criança desaparecida na região durante o Halloween.

A partir de certo ponto da história, é preciso preparar o espectador para o Terror que começa a tomar forma. Sombras que surgem e somem inesperadamente, portas batendo, ruídos estranhos, a porta trancada com chave, o cômodo escondido da casa, papel de parede que solta revelando surpresas. São velhos clichês do gênero, mas que aqui funcionam bem antecipando um momento mais impactante e cru que está por vir.

Quando algumas situações fogem do controle, muitas cenas ganham mais impacto inclusive sendo bem pesadas e angustiantes. Os 20 minutos finais são realmente brutais. A trama segue com direito a gore, eventos fatais, violência, desfechos cruéis para alguns personagens, tudo dentro de um ritmo frenético e tenso.

O filme, embora não tão eficaz como um todo, envolve o espectador até o final. Seja pelo interesse em descobrir a verdadeira intenção da trama ou mesmo aguardando para que a real índole dos personagens seja revelada.

Infelizmente, o filme fecha sem dar todas as respostas, muitos fatos ficam em aberto. Certamente alguns flashbacks na trama não fariam mal e explicariam melhor os eventos que nós vemos até os créditos finais, além de garantir mais tensão.

De qualquer forma, é certo que o espectador sentirá muita apreensão vivenciando os temores de Peter, vai se lembrar muito daquele barulho no quarto que ouvia quando criança ou mesmo de quando não tinha voz dentro de casa ou na escola.