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Foto do escritorEduardo Salvalaio

The Girl Crying In Her Latte é a confirmação de que o Sparks atravessa décadas sem perder seu ritmo

Passando dos 70 anos de idade, os irmãos Mael (Ron e Russell) tratam a música como se fosse uma brincadeira de criança. No melhor dos sentidos, claro.

Foto: Munachi Osegbu


Passando dos 70 anos de idade, os irmãos Mael (Ron e Russell) tratam a música como se fosse uma brincadeira de criança. No melhor dos sentidos, claro. Atuando desde os anos 70 como Sparks, difícil agora falar resumidamente sobre a trajetória e a discografia da dupla. Tipo aquele ícone musical que renderia tranquilamente uma tese de doutorado. Passar dos 50 anos de atividade não é para qualquer um.


Além dos álbuns de estúdio, frequentemente colaboram com outros artistas/grupos e também já tiveram o privilégio de realizar trilhas sonoras. Em 2015, o duo, junto com o grupo escocês Franz Ferdinand, criou o interessante projeto FFS e como resultado um disco bem criativo foi lançado.



Entre tantos trabalhos inventivos que a dupla lançou, difícil indicar algum em específico. Apesar da década mais prolífera do duo acontecer nos 70’s, eles continuaram afiados e surpreenderam com bons e inesperados álbuns. Não fizeram feio ao abraçar o novo século sendo fiéis às suas características sonoras sem perder o vínculo de uma modernidade musical que se aproximava.


Fácil afirmar que Sparks recebeu influências de muitos grupos. Porém, também deixaram sua herança para quem viria depois. Morrissey já disse em algumas entrevistas que “Kimono My House” (1974) é um dos seus discos preferidos. O baixista Peter Hook relatou que uma das canções mais importantes do New Order, ‘Temptation’, sofreu forte influência do jeito de compor dos irmãos.


Abraçando diversos gêneros numa forma complexa de diferenciar, essa longevidade e criatividade do duo ajudaram na constituição sonora que adquiriram. A elasticidade da voz de Russell capaz de intercalar entre variados registros vocais (falsete é um deles) e Ron em seu teclado estudando várias bases sonoras também colaboraram no diferencial do Sparks desde sua origem.

Outra peculiaridade da dupla é casar a música com a cultura pop de uma forma geral. Para a divulgação da faixa ‘The Girl Is Crying In Her Latte’, a performática atriz Cate Blanchett aparece dançando. Certamente, um dos vídeos mais inusitados que veremos em 2023. Humor, irreverrência, ludismo e até o nonsense também fazem parte do repertório musical. Em ‘The Mona Lisa’s Packing, Leaving Late Tonight’, Russell brinca dizendo que a famosa Monalisa do quadro está cansada de ficar ali e que deseja ir para outros lugares, sair um pouco.



A música circense, teatral e cinematográfica é destacada pelas faixas ‘We Go Dancing’ e ‘It’s Sunny Today’. A primeira é efusiva e caótica em sua sonoridade, enquanto a segunda prefere um viés mais melancólico (apesar do título sugerir algo alegre). ‘A Love Story’ e ‘You Were Meant For Me’ se deixam levar por um denso Synth Pop de batidas pesadas, entretanto a dupla faz de ‘Take Me For A Ride’ um lugar para praticar um oportuno Rock Sinfônico.


‘Escalator’ nos faz pensar numa canção que o Kraftwerk também colocaria em seus discos, ‘Veronica Lake’ surge com um sutil clima de latinidade e ‘Not That Well-Defined’ usa as camadas vocais de Russell como uma base a mais em sintonia com o instrumental que cresce gradativamente.


Sparks condensa 50 anos de música em seu novo disco. A cada trabalho, uma assimilação do que executaram através dos anos, um passo a mais de maturidade alcançada. São atemporais, não sentem vergonha da história que fizeram e que continuam fazendo. Convidam o futuro para sentar do lado do passado porque, no final, um depende do outro.

 

The Girl Crying In Her Latte

Sparks


Lançamento: 26 de maio de 2023

Gênero: Synth Pop, Rock, Dance-Rock, Eletrônico

Ouça: "The Girl Is Crying In Her Latte", "Take Me For A Ride", "Veronica Lake"

Humor: Irônico, Irreverente, Inteligente


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

Veja o vídeo oficial de ‘The Girl Is Crying In Her Latte’:



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