O vocalista do The Specials morreu nesta semana, aos 63 anos. Apontamos algumas características importantes da banda no texto abaixo
Ocasionalmente, o vazio de um olhar pode gritar com mais intensidade que qualquer outra coisa. Enquanto imagens celebrativas de Terry Hall — figura central impassível do turbilhão chamado The Specials — enchiam nossas linhas do tempo com a notícia de sua morte enviando uma onda de pesar pelas redes sociais, podia-se ler por trás daqueles olhos, carrancudo o marco revolucionário de eras.
No primeiro motim pós-punk do The Specials, há acusações e desafios: dos maus-tratos políticos à juventude em cidades fantasmas da Grã-Bretanha e da intolerância social e racismo que eles enfrentavam. Na pin-up pop dos anos 80, vemos força de vontade para sobreviver, história de abuso, problemas mentais e ambições não cumpridas.
Dito isso, a influência e o legado do homem devem ser avaliados primeiramente pelos The Specials. Jerry Dammers, Neville Staple, Lynval Golding, Roddy Radiation, Horace Panter e John Bradbury são os companheiros de banda, mas Hall foi o co-vocalista e marechal da primeira banda britânica multirracial a chegar ao mainstream.
Sua existência foi um alerta extremamente necessário para a cultura britânica. À medida que foram crescendo e tocando canções como 'Too Much Too Young', 'A Message To You, Rudy', 'Rat Race' e aquela que mais representou uma época, 'Ghost Town', mais obstáculos eles superavam e mais aceitação eles conquistavam. O The Specials se tornou a base da diversidade, inclusão e união na música britânica por gerações. A maior importância política de Hall foi um grande desenvolvimento social para o The Specials.
Eles cantavam sobre decadência urbana, privação e violência, retratando a vida do adolescente do centro da cidade. A expressão impassível e sem sentimento, transcorrido no olhar capturava a frustração crescente daqueles que lutavam contra o thatcherismo.
Após isso, Hall protagonizou outra batalha, porém, com um final mais vitorioso. Após esconder dos admiradores sua trágica experiência de ter sido sequestrado por uma organização de pedófilos, enfrentar uma longa depressão, ser diagnosticado com transtorno bipolar e tentar o suicídio em 2004, recentemente, começou a conversar publicamente sobre suas experiências e como melhorou sua saúde mental aos 50 anos.
Isso não ofusca, nem de longe, sua extraordinária contribuição musical. Lá estavam os clássicos exuberantes dos Specials. Apesar de seu talento ter sido desvalorizado em muitas de suas obras pós-Especials, ainda assim permanece como um talento totalmente explorado, uma vida criativa bem vivida.
A razão talvez seja que, quando o grupo The Specials se reuniu em 2009, ele retornou de forma mais leve e segura de si, apesar de suas mensagens políticas serem mais intensas em 'Encore' e 'Protest Songs'. Mas, se devemos tirar uma lição desta existência abençoada, mas dura, é uma que ele nos deu desde o começo. Aproveite, pois é mais tarde do que imagina.
Comentarios