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Senna celebra o ícone do automobilismo com atuações fortes, mas com roteiro falho

Foto do escritor: alexandre.tiago209alexandre.tiago209

Atualizado: 6 de dez. de 2024



A minissérie, se propõe a contar a história do esportista desde seus primeiros passos na Fórmula Ford até o fatídico acidente que comoveu o mundo

Senna celebra o ícone do automobilismo com atuações fortes, mas com roteiro falho
Foto: Reprodução/Netflix.

O ano de 1994 marcou o Brasil com eventos que misturaram celebração e tristeza. Em 17 de julho, a seleção masculina de futebol conquistou o tetracampeonato mundial, vencendo a Itália nos pênaltis por 3 a 2. Por outro lado, em 1º de maio, o país sofreu a perda de Ayrton Senna, um dos maiores nomes do automobilismo, que faleceu tragicamente durante o GP de San Marino, em Ímola.


Esses marcos têm algo em comum: o impacto cultural e emocional causado por Senna, uma figura que transcendeu o esporte e se tornou sinônimo de determinação e orgulho brasileiro. 30 anos depois, em 2024, a Netflix homenageia esse legado com a minissérie “Senna”, uma produção em seis episódios que explora a vida e carreira do piloto.

 

A minissérie, se propõe a contar a história do esportista desde seus primeiros passos até o fatídico acidente que comoveu o mundo. Mais do que focar em suas conquistas nas pistas, a produção oferece um retrato humanizado do piloto, explorando também aspectos de sua personalidade e de seus relacionamentos.

 

A narrativa de Senna captura os momentos de superação e o impacto que Ayrton teve dentro e fora das pistas, destacando como ele se tornou um símbolo de esperança e inspiração para os brasileiros. Com uma abordagem cuidadosa, a série consegue equilibrar emoção e realidade, apresentando a figura de Senna com o devido respeito à sua memória.

 


É importante destacar que a série foi desenvolvida pela Netflix em parceria com a Senna Brands, representante oficial da família de Ayrton Senna. Essa colaboração garantiu autenticidade à produção, mas também trouxe desafios. Embora a série apresente aspectos positivos, como a humanização do piloto, também enfrenta críticas. O objetivo da obra não é transformar Ayrton em um herói idealizado, mas sim retratá-lo como uma das grandes figuras do esporte mundial, cuja trajetória inspira gerações e desperta interesse pelo automobilismo.

 

A escolha de Gabriel Leone para interpretar Ayrton Senna foi acertada, pois ele consegue transportar os espectadores para o universo do piloto, entregando uma performance cativante e repleta de nuances. Com atuações intensas, cenas introspectivas e um carisma inquestionável, Leone demonstra talento e profundo respeito pela figura que interpreta. Sem dúvida, este é um dos papéis mais marcantes de sua já consolidada carreira.

 

Outras escolhas de elenco se destacaram pela precisão e impacto. Pâmela Tomé brilhou ao interpretar Xuxa Meneghel, trazendo talento e carisma ao retratar a apresentadora de forma excelente e marcante. Alice Wegmann entregou uma forte dramatização no papel de Lílian de Vasconcellos Souza, enquanto Gabriel Louchard capturou com habilidade o equilíbrio entre leveza e seriedade ao interpretar Galvão Bueno, uma figura crucial tanto para Ayrton Senna quanto para a imprensa esportiva brasileira.

 

Matt Mella se destacou ao encarnar o icônico rival Alain Prost, protagonizando cenas intensas que remetem à rivalidade histórica entre os pilotos. Da mesma forma, Hugo Bonemer interpretou com competência Nelson Piquet, outro grande nome do automobilismo brasileiro, adicionando mais autenticidade à narrativa com sua performance sólida.

 

Apesar de a produção ter pontos positivos, alguns aspectos da série merecem atenção e críticas. Julia Foti entrega uma interpretação convincente como Adriane Galisteu, última namorada de Ayrton Senna, mas seu tempo de tela é extremamente limitado, com cerca de três minutos. Essa escolha levanta questionamentos, já que, independentemente da visão da família Senna, Adriane teve um papel significativo no último ano e meio da vida do piloto. A decisão de reduzir sua presença na trama pode ser vista como um desrespeito à relevância dela nesse período crucial da trajetória de Senna.

 

Outros pontos de atenção na minissérie incluem escolhas que comprometem a autenticidade histórica e a coerência narrativa. Johannes Heinrichs aparece com um visual excessivamente envelhecido para interpretar Niki Lauda, destoando da realidade da época. Leon Ockenden entrega uma atuação caricata como James Hunt, o que pode afastar os espectadores mais exigentes. Além disso, momentos históricos significativos da carreira de Senna são retratados de forma superficial, perdendo a oportunidade de aprofundar esses eventos marcantes.

 

A introdução de elementos fictícios, como a jornalista Laura Harrison, embora bem interpretada por Kaya Scodelario, parece desnecessária. Sua presença na trama não contribui diretamente para a narrativa principal e acaba desviando o foco de acontecimentos reais que poderiam ser mais explorados. Essas escolhas geram um desbalanceamento na construção da história, limitando o impacto da produção.

 

A direção e o roteiro de Senna ficaram a cargo de Vicente Amorim, em parceria com a renomada cineasta Júlia Rezende. A dupla entrega uma produção visualmente bem trabalhada, com cenas que exploram contrastes de cores de forma linear e consistente, além de proporcionarem fotografias marcantes que capturam a essência do automobilismo e a vida pessoal do piloto. O elenco, sob a condução segura dos diretores, apresenta atuações sólidas e imersivas, o que é um dos pontos altos da minissérie.

 

Porém, a narrativa apresenta algumas fragilidades. Em diversos momentos, o ritmo se torna arrastado, e certos aspectos importantes da trajetória de Ayrton Senna não são explorados com a profundidade que mereciam. A decisão de condensar a história em apenas seis episódios contribui para interpretações confusas sobre eventos cruciais e personagens importantes, deixando lacunas na construção narrativa. Com mais episódios — 10, por exemplo —, haveria espaço para abordar com maior riqueza de detalhes tanto a vida de Senna quanto as relações e os contextos que o cercavam, criando uma experiência mais imersiva e coesa para o espectador.

 

Em resumo, Senna é uma boa minissérie que conquista o público com suas atuações destacadas, especialmente a de Gabriel Leone, que oferece uma interpretação cativante e respeitosa de Ayrton Senna. A trilha sonora bem trabalhada e as cenas visualmente marcantes contribuem para humanizar a figura do piloto sem cair na armadilha de idealizá-lo como um herói inalcançável.

 

Por outro lado, a produção falha em explorar de maneira mais profunda aspectos importantes da vida de Senna, como seu relacionamento com Adriane Galisteu, além de apresentar uma narrativa que em alguns momentos carece de maior dinamismo e profundidade. Essas lacunas impedem que a obra alcance o nível de excelência que poderia ter atingido.

 

Ainda assim, Senna consegue atrair tanto fãs de longa data quanto novos admiradores do piloto. Apesar de não ser uma produção que apaixonará diretamente os fãs de automobilismo, ela presta uma homenagem digna e sensível a um dos maiores esportistas brasileiros. Com ajustes no roteiro e mais episódios para aprofundar sua narrativa, poderia ter se consolidado como uma das melhores séries brasileiras já lançadas pela Netflix.


 
 

Senna

Ano: 2024

País: Brasil

Gênero: Drama Biográfico

Número de episódios: 6

Elenco: Gabriel Leone, Pâmela Tomé, Gabriel Louchard


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

Confira o trailer:




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