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Foto do escritorTiago Meneses

Sadness, em um tom mais acolhedor e esperançoso, Your Perfect Hands and My Repeated Words mostra menos sombras e mais luminosidade

As letras em Your Perfect Hands and My Repeated Words mergulham em temas de saudade, amor profundo e a ideia de um vínculo que ultrapassa o tempo

Sadness
Imagem: Reprodução


Damián Antón Ojeda é um músico e compositor mexicano mais conhecido por ser o criador e mente por trás do projeto Sadness. Caracterizado por ser uma banda de "um homem só", com Damián assumindo toda a criação, composição, gravação e produção das músicas, o músico se mostra um verdadeiro autossuficiente dentro da cena, especialmente dentro do blackgaze e shoegaze, mas também com elementos de doom, post-rock, música atmosférica e até mesmo algumas pinceladas de black metal.


Sadness é um projeto que é marcada por uma fusão de riffs pesados e atmosféricos que geram uma sensação de opressão e gravidade, tendo logo em seguida o poder de construir momentos mais suaves e etéreos, como se a música estivesse convidando o ouvinte a mergulhar de cabeça em várias de suas emoções. Esse contraste entre intensidade e suavidade, ajuda a criar uma paisagem sonora que explora e expressa os sentimentos mais profundas e sombrios daqueles que se deixam levar pelo som, permitindo assim, que o ouvinte vivencie sensações conflitantes, desde a melancolia mais profunda até momentos serenos e contemplativos – que nesse caso, é a maioria encontrada no disco.


Your Perfect Hands and My Repeated Words é um dos três discos lançados pela Sadness esse ano, isso mostra o quanto que Damián é um artista prolífico. A sensibilidade artística explorada aqui é muito mais otimista e leve do que sombria e densa. Por meio de cinco músicas em que quatro ultrapassam os dez minutos, o ouvinte é guiado por composições que embora mantenham a principal identidade emocional característica do projeto, também encontram espaço para explorar em vários momentos as sensações de aceitação e beleza.


bury your kiss in me, abre o disco com uma introdução suave guiada por uma guitarra serena que traz uma sensação de calma. Ao fundo, surge uma paisagem cintilante tecida por ideias profundas de teclas. À medida que a música avança, a peça vai ganhando energia de forma gradual. Então, o ritmo se intensifica e a sonoridade se torna edificante e poderosa, mas então que no coração da composição, ela retorna brevemente a uma atmosfera mais contemplativa e introspectiva, criando um momento de pausa que contrasta com a explosão anterior. Em seguida, a instrumentação cresce novamente, mostrando que esse ciclo de serenidade e explosão emocional reflete a habilidade de Damián em alternar o humor sonoro de suas músicas de uma forma coesa.



pink clouds inicia com uma ambientação atmosférica que estabelece um cenário etéreo e introspectivo. Pouco depois, batidas suaves, distantes e levemente abafadas começam a ecoar, como se o som viesse de um lugar fora de alcance, mas em perfeita harmonia com o ambiente. Então que a instrumentação principal toma o centro, trazendo uma sonoridade leve e otimista que inunda a peça com um tom bastante animado, destacando um lado mais vibrante e positivo do projeto. No núcleo da faixa, há uma pausa momentânea, um instante de quietude, porém, é a atmosfera e instrumentação edificante que permeia toda a música e que define sua essência.


lowsun bridge começa com uma introdução lindíssima, onde uma melodia suave e esperançosa de violão cria uma atmosfera onírica. Esse violão estabelece uma sensação de paz, como um prelúdio delicado que convida o ouvinte a mergulhar em um universo musical emocional. Então que a peça passa por uma transformação, ganhando intensidade e energia que a impulsionam, além de serem introduzidos arranjos mais densos e vigorosos, porém, sem que em momento algum ela perca a sua aura edificante. Ao longo dos seus pouco mais de 10 minutos, vai se alternando entre momentos introspectivos e passagens com uma maior intensidade, sendo cada uma dessas mudanças muito bem fluidas e coesas.


spring flashes, novamente o disco entrega um início de música envolvente e acolhedor, como se estivesse dando um abraço no ouvinte. Uma guitarra tímida e distante ecoa suavemente, parecendo ressoar ao longe. Esse clima delicado estabelece uma aura de serenidade que aos poucos se desenvolve com a entrada dos demais instrumentos. Quando a instrumentação completa surge, a faixa mantém a mesma tranquilidade inicial, mas agora com uma pulsação mais forte e ritmada. A música no geral possui uma enorme leveza e fluidez, onde mesmo com o seu crescimento gradual, continua refletindo uma beleza serena e quase meditativa.


please don’t let go, se destaca inicialmente por meio de uma belíssima melodia de guitarra, surgindo com suavidade em meio a uma sonoridade atmosférica e envolvente ao fundo. Esse início cria uma sensação de que a música está preparando cuidadosamente o ouvinte para algo maior. Então que uma batida influenciada pelo post-punk entra em cena. Conforme avança, a peça vai se aproximando cada vez mais de um clímax emocional. No entanto, assim que o auge é alcançado, ela recua para uma sonoridade quase silenciosa e delicada. De certa forma, esse final pode ser encarado como um último suspiro de emoções, permitindo que o álbum se encerre com a mesma profundidade emocional que começou.


As letras em Your Perfect Hands and My Repeated Words mergulham em temas de saudade, amor profundo e a ideia de um vínculo que ultrapassa o tempo, refletindo memórias e sentimentos que se projetam a ir além do agora. Fica bastante claro que o disco sugere uma busca por conexões autênticas, enfatizando momentos e sensações únicas do tipo que se mantem sempre renovadas, com isso, trazendo uma dualidade entre a beleza da lembrança e a implacável passagem do tempo e que resulta em uma mistura de ternura e melancolia.



Por fim, se por um lado o nome do projeto muitas vezes se alinha mais com a melancolia evidente e profunda, em Your Perfect Hands and My Repeated Words, a “tristeza” parece surgir de uma forma mais sutil e discreta. Aqui o tom é mais acolhedor e esperançoso, com a melancolia aparecendo apenas em momentos pontuais, quase como um pano de fundo, em vez de ser o centro das atenções. Essa abordagem dá ao disco uma leveza e experiência que embora ainda intimista, explora uma perspectiva mais luminosa e delicada.

 

Your Perfect Hands and My Repeated Words

Sadness


Ano: 2024

Gênero: Shoegaze, Post-Rock Ouça: "bury your kiss in me", "spring flashes", "please don’t let go"

Pra quem curte: Moongazer, A Rose Dying In The Rain, abriction



 

NOTA DO CRÍTICO: 9,5

 

Ouça, "bury your kiss in me"


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