Rádio universitária é retirada do ar após quase 50 anos e provoca revolta em campus dos EUA
- Marcello Almeida

- há 12 horas
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Depois de quase cinco décadas no ar, a WCSB 89.3 FM foi simplesmente retirada da frequência

O que está acontecendo na Cleveland State University não é apenas o desligamento de uma rádio universitária. É um sintoma claro de um conflito maior: o choque entre a lógica institucional e a cultura viva produzida por estudantes.
Depois de quase cinco décadas no ar, a WCSB 89.3 FM foi simplesmente retirada da frequência. Sem comunicado prévio, sem debate público, sem transição. Onde antes existia uma programação feita por alunos, caótica, livre, experimental e profundamente conectada à cena local — agora toca uma transmissão contínua de jazz operada pela Ideastream Public Media, braço regional de redes como NPR e PBS.
O detalhe simbólico beira o cinismo: a mudança entrou em vigor no dia 3 de outubro, justamente no feriado nacional que celebra as rádios universitárias nos Estados Unidos.
Fundada em 1970, a WCSB nunca foi apenas uma estação de rádio. Era um espaço de formação real, onde estudantes aprendiam errando, testando, criando. Um lugar onde rock, punk, metal, jazz, música experimental e artistas locais conviviam sem hierarquia. Um território de risco criativo, algo cada vez mais raro em ambientes acadêmicos pressionados por métricas, contratos e “parcerias estratégicas”.
A universidade defendeu a decisão como uma oportunidade educacional, prometendo estágios e possíveis colaborações futuras com a Ideastream. O problema é que, na prática, não há garantias claras de protagonismo estudantil. O controle da frequência mudou de mãos. A autonomia, também.
A resposta veio rápido. Estudantes, ex-alunos, antigos programadores e membros da comunidade passaram a ocupar reuniões, organizar protestos e questionar a decisão publicamente. A mobilização ganhou forma com o coletivo XCSB, liderado por Alison Bomgardner, última gerente-geral estudantil da rádio. Mais do que nostalgia, o movimento levanta uma pergunta incômoda: qual é, afinal, o papel de uma rádio universitária?
O caso ultrapassou os muros do campus. O Conselho Municipal de Cleveland pediu que a decisão fosse revista, e o debate chegou a instâncias de financiamento cultural da cidade. Para muitos, o episódio da WCSB não é exceção, mas parte de um padrão: universidades desmontando projetos culturais geridos por estudantes e entregando esses espaços a grandes redes, sob o discurso de eficiência, economia e “profissionalização”.
No processo, perde-se algo difícil de quantificar, mas fácil de sentir. Perde-se a voz jovem, a programação imprevisível, o erro como aprendizado, a rádio como espaço de pertencimento. A WCSB pode ter saído do ar, mas o que ela representa segue ecoando: uma lembrança incômoda de que cultura não nasce de contratos, e sim de gente.
Fonte: Portal SPIN















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