A série não poupa as críticas e a oportuna analogia com o mundo moderno
Atenção: texto escrito para quem assistiu a primeira temporada da série por conter SPOILERS
Round 6 chegou no catálogo da Netflix em 2021 com um hype absurdo e por um tempo foi uma das séries mais assistidas pelo mundo. Entretanto, nada foi tão fácil e/ou aconteceu repentinamente. O diretor coreano Hwang Dong-hyuk começou a escrever o roteiro em 2008 e terminou apenas no ano seguinte.
Após algumas recusas de estúdios, a série começou então a ser produzida num lento processo levando cerca de 10 anos para ficar pronta. O diretor tinha muito medo dela não dar certo e de não cair no gosto do público. Para ele, essa mistura inusitada de Jogos Vorazes com Battle Royale poderia não ser bem aceita, sobretudo com as críticas que o enredo trazia como engajamento.
Dong-hyuk também lembrou que mesmo sendo pensada durante o ano de 2008, mais de uma década depois a produção não perdeu seu intuito e impacto, pois os problemas que a série deseja abordar ainda continuam presentes, inclusive num ritmo mais evidenciado porque as desigualdades sociais e as mazelas criadas pelas regras do capitalismo aumentaram em muitos lugares pelo mundo.
A trama novamente traz como personagem principal Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), o vencedor do jogo na primeira temporada. Agora, dono de uma considerável quantia de dinheiro, ele não sente confortável e deseja descobrir aonde acontecem os jogos e dar um fim a tudo. Todavia, ele gasta seu dinheiro para descobrir aonde os jogos são realizados e encontrar o homem responsável em recrutar os participantes do jogo.
A série não poupa as críticas e a oportuna analogia com o mundo moderno. O próprio recrutador, em cena marcante, leva pão e um bilhete de loteria a alguns moradores de ruas. Realiza uma forma de jogo aonde os pobres participantes precisam escolher em ter um alimento para aquele instante ou então apostar num jogo de sorte para ficarem ricos. A cena termina de forma cruel, mas necessária identificando o apego das pessoas ao dinheiro.
Concentrada em não ir diretamente para os jogos, os dois primeiros episódios destacam não apenas a volta de Gi-hun e sua obstinada busca pelos mentores do jogo, como a entrada de novos personagens. É onde a série começa a destilar nossa sensibilidade, com direito a uma menininha com leucemia, um cartunista e uma mulher com um passado de qual prefere não comentar. Também abre espaço para um embate vertiginoso entre dois personagens onde a roleta russa pode decidir quem permanece vivo.
Digamos que o foco do Round 6 são seus personagens. Nesta temporada não é diferente. 456 pessoas desesperadas e endividadas atrás de dinheiro, sem saber que aqui a derrota significa morte. Antes que os jogos comecem, mais alguns personagens são apresentados: o vilão cínico que não medirá trapaças para continuar vivo, a mulher trans que serviu o exército e está longe de ser fragilizada, uma grávida, a senhora de idade que está ali para pagar a dívida do filho.
Conforme os episódios chegam, aprendemos mais sobre o passado e a vida dessas pessoas. Muitas vezes não, alguns personagens continuam misteriosos. Traição, lealdade, amizade e ganância são características que seguem delineadas gradualmente, geralmente causando um choque no espectador.
Muitos personagens se aproximam dos espectadores e acabam sendo os preferidos, ou até mesmo os mais odiados. Saber quem vai ficar vivo ao término de cada jogo certamente é um dos trunfos da série que muitas vezes não poupa aquela pessoa que esperávamos terminar de forma trágica.
Os jogos continuam fundindo brincadeiras de criança. A famigerada e mortal boneca da batatinha frita faz sua presença. Entretanto, novos jogos entram e agora exigem que nossos participantes escolham suas parcerias sabiamente ou então que estejam prontos a se socializar de forma rápida caso queiram sobreviver.
Não basta vencer cada jogo, pois conforme o número de jogadores diminui, o valor em dinheiro aumenta, desencadeando o verdadeiro e cruel caráter de muitos participantes. Também é preciso sobreviver dentro do dormitório, sobretudo num lugar que começa a perder suas regras e com um prêmio milionário cada vez mais subindo à cabeça das pessoas.
A segunda temporada termina de forma contundente, deixando ganchos para mais algumas reviravoltas e intrigas na próxima temporada (prometida para junho de 2025). Também precisa chegar com mais respostas sobretudo acerca de quem comanda os jogos e até onde nossos participantes podem chegar.
Round 6 é aquela série do ame ou odeie. Polêmica, irônica, capaz de gerar intrigas em debates. Basta chegar uma nova temporada e surgem inúmeros memes, boatos e teorias em cada canto que ela é comentada. Mesmo que essa não seja uma segunda temporada original, também não fica muito distante da primeira.
Continua sendo uma produção firme pelo próprio hype criado, que convence e que nos faz refletir que diariamente vivemos uma corrida pela nossa sobrevivência. A ficção que pega emprestado as lições de um mundo que muitas vezes não mede esforços numa busca desenfreada por poder e pelo desejo de mais riquezas.
Round 6
(2ª Temporada)
Ano: 2024
Gênero: Ação, Drama, Mistério, Suspense
Direção: Hwang Dong-Hyuk
Roteiro: Hwang Dong-Hyuk
Elenco: Lee Jung-jae, Lee Byung -hun (I), Lee Jung Jae
País: Coreia do Sul
Duração: 430 min
NOTA DO CRÍTICO: 7,0
Trailer:
NOTA DO CRÍTICO: 7,0
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