O décimo disco da banda evolui marcadamente, mantendo um forte elo com suas raízes e influências
Quem já é familiarizado com a sonoridade solar e reflexiva do grupo neo-psico-pop australiano Pond já sabe que a banda gosta de navegar por elementos e camadas criativas, proporcionando ao ouvinte uma nostálgica e agridoce viagem pela música psicodélica do passado, com o frescor agradável do presente. Essas características tornam sua música cada vez mais atemporal.
Nesse caldeirão de indie rock temperado com pitadas de rock progressivo, chegamos ao novo álbum do grupo, Stung. Este trabalho tem um ar mais descontraído e suave, com uma vibração que contrasta com discos anteriores. Se antes o grupo soava mais enérgico, Stung embarca em uma viagem atmosférica e reflexiva, expondo uma banda sempre atenta a soar inovadora e criativa, mas que ainda se mantém fiel às suas raízes psicodélicas, com a liberdade de explorar novas paisagens sonoras.
Como se eles se sentissem livres para voar a céu aberto e ultrapassar os limites do processo criativo, ou até mesmo a jornada de sua música, algo que agrada no grupo australiano é exatamente isso: a facilidade que possuem de se reinventar e criar canções que conseguem conectar o ouvinte com todo esse processo de construção harmônica e abordagem proposta por cada faixa.
"Constant Picnic", faixa que abre o disco, já deixa isso bem evidente. A canção é um convite para mergulhar em uma viagem repleta de recortes nostálgicos e efervescentes, com uma sonoridade etérea e uma mistura cristalina e surreal de synth-pop. O Pond continua cada vez mais firme na sua estrada psicodélica, provando que sua energia criativa está longe de chegar ao fim. "(I'm) Stung" e "Neon River" chegam fortes com belos riffs colossais e caleidoscópicos.
Mas Stung está longe de ser apenas um trabalho voltado para o psicodelismo. Faixas como "Edge of the World Pt.3" mostram isso com sua paisagem cinematográfica e toques precisos de acid-jazz, além de uma sonoridade agridoce e convidativa de suaves flautas e sintetizadores hipnóticos, lembrando um filme de ficção científica dirigido por Denis Villeneuve.
Uma das faixas que se destacam no disco é "So Lo", que chega com a bola cheia e alto astral, pisando fundo no funk espacial repleto de groove. Em certos momentos, emula uma familiaridade com Prince, com toques de George Clinton. Assim, logo de cara, talvez demore um pouco para a ficha cair. A primeira audição pode estar mais associada à sensação de um convite para embarcar na proposta do disco, que pode soar esquisita e difícil. Porém, a partir da segunda e terceira audição, tudo começa a fazer sentido, e você se vê totalmente absorvido pela atmosfera do álbum.
As letras de Nick Allbrook são impactantes, independentemente do estilo ou do contexto emocional. Ele é acompanhado por uma banda cuja excelência e criatividade musical são incomparáveis. Juntos, a química funciona muito bem e eles conseguem ser diversificados e cativantes, ao mesmo tempo em que se destacam por seguir uma linha clara e bem definida.
Os riffs estridentes e sintetizadores espaciais também permeiam pela envolvente "Black Lung", algo nessa faixa pode descaradamente te levar a pensar em Tame Impala ou, em alguns momentos, deixar a porta aberta para uma viagem cósmica com bons acordes de guitarras e uma ambientação climática, algo que o Pond faz muito bem. Com um total de 14 faixas, o décimo disco da banda consegue uma evolução marcante em sua música, ao mesmo tempo em que mantém um forte elo com suas raízes e influências.
Stung
Pond
Ano: 2024
Gênero: Indie Rock, Alternativo, Psicodélico
Ouça: "So lo", "Black Lung", "Constant Picnic"
Pra quem curte: Tame Impala, Temples
Humor: Atmosférico, Enigmático, Hipnótico
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