Com um som envolvente e único, Aline cria uma mistura interessante de emoções intensas e uma montanha-russa sentimental, capturando bem sua personalidade cativante e sorridente
Quando se vê o rosto de Aline Paes pela primeira vez, é fácil pensar que ela é uma nova promessa das artes. No entanto, a trajetória da carioca é impressionante. Surfista e formada em Produção Cultural na UFF (Universidade Federal Fluminense), ela lançou seu primeiro show solo, "Noite Aberta", em 2009, gravou o EP "Entre Tempos" em 2021, com André Pinto-Siqueira, e, em 2015, lançou "Batucada Canção", seu primeiro e aclamado disco. Sua versatilidade, carisma e talento são surpreendentes.
Após um longo hiato sem produzir novos álbuns ou músicas inéditas, Aline Paes retornou, em 2023, com três singles, mostrando que ainda tinha muito a oferecer. Em 2024, ela lançou "Corpo Mar", seu segundo disco, que leva os ouvintes a uma jornada sonora entre águas nacionais e internacionais, explorando emoções profundas e poéticas com diversas influências.
"Corpo Mar" é composto por 9 faixas que transacionam lindamente a MPB com samba, semba, congo, funk, xote e reggae. Com um som envolvente e único, Aline cria uma mistura interessante de emoções intensas e uma montanha-russa sentimental, capturando bem sua personalidade cativante e sorridente.
A faixa de abertura, "Mar Aberto", serve como uma excelente introdução tanto ao disco quanto ao repertório de Aline. A música traz elementos de ancestralidade, águas profundas e sentimentais, e resiliência para se reinventar. O instrumental é marcado por uma melodiosa percussão, enriquecendo ainda mais a faixa.
"Mana Que Emana" destaca a participação do cantor angolano Paulo Flores, trazendo o semba, gênero musical angolano inspirado no samba. Esta faixa celebra a união entre Brasil e Angola, com suas brasilidades e africanidades, em uma letra tocante. Se Clara Nunes estivesse viva para ouvir, se sentiria orgulhosa e feliz por ser muito bem referenciada.
"Água de Mar" apresenta o cantor e compositor cubano Aliesky Perez. Juntos, eles criam uma música suave e poética. Esta faixa poderia facilmente ser interpretada por Maria Bethânia ou por Gal Costa, dadas suas profundas influências nas artistas baianas que sabem muito bem transitar entre vários segmentos da música brasileira.
“Sem Fronteiras” traz um bonito dueto entre Aline e Marina Iris, consagrada sambista carioca, com uma letra feita por Chico Oliveira, que faleceu em 2020, em um samba tocante que transborda de forma abundante fortes emoções em um lírico cheio de sentimentalismo genuíno. Sua levada musical lembra, com alegria, grandes femininos do samba, como Dona Ivone Lara, Alcione e Beth Carvalho, que faziam canções maravilhosas, ideais tanto para sambar quanto para se emocionar, com suas abordagens que impactam fortemente mentes e corações.
"Um Dia Você Acerta", composição de Pedro Ivo, é um convite ao carpe diem. Com tons alegres e dançantes, a faixa mistura ritmos baianos com carimbó, e a presença de um narrador cujos elementos remetem ao icônico Macunaíma, personagem da literatura brasileira imortalizado na magistral escrita de Mário de Andrade.
As demais faixas de "Corpo Mar" continuam a encantar com sons e letras arrebatadoras, destacando o talento de Aline para criar músicas ecléticas e intimistas. Destaque para a faixa final, "Oriki", que encerra o álbum de forma representativa e vibrante.
Aline Paes demonstra que não precisa mais de longos hiatos. Com "Corpo Mar", ela entrega um disco maravilhoso, cheio de sonoridade eclética, letras bonitas, arranjos excelentes e produção impecável. A artista segue fiel às palavras da escritora e poetisa Cecília Meireles: “A vida só é possível reinventada.” O público aguarda ansiosamente por seus próximos trabalhos.
Corpo Mar
Aline Paes
Ano: 2024
Gênero: MPB, Samba, Reggae
Para quem gosta de: Clara Nunes, Gal Costa, Maria Bethânia
Ouça: "Sem Fronteiras", "Mana Que Emana", "Mar Aberto"
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