O fim de uma era: Papa Francisco morre aos 88 anos e deixa um legado de compaixão e coragem
- Marcello Almeida
- 21 de abr.
- 2 min de leitura
Francisco não foi apenas um Papa. Foi um reformador, um símbolo de humildade e coragem em tempos de ódio e polarização

A voz que ressou pelos becos do mundo, em defesa dos pobres, dos marginalizados e da dignidade humana, silenciou nesta segunda-feira (21). O Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano e jesuíta a liderar a Igreja Católica, morreu aos 88 anos no Vaticano. O anúncio foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Santa Sé.
“Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que comunico a morte do nosso Santo Padre Francisco”, dizia o comunicado oficial. “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja.”
Farrell também ressaltou o impacto de seu pontificado:
“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”
O argentino Jorge Mario Bergoglio assumiu o comando da Igreja em março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, e rapidamente quebrou protocolos e resistências com sua simplicidade. Andou de metrô em Buenos Aires, recusou o trono dourado do Vaticano, morou numa casa simples, e deixou claro desde o início: queria uma “Igreja em saída”, próxima do povo e menos preocupada com dogmas que com a vida real.
Nos últimos anos, no entanto, a saúde de Francisco foi se deteriorando. Começou com dificuldades respiratórias no início deste ano. Ele ficou quase 40 dias internado no Hospital Gemelli e recebeu alta em 23 de março. Depois veio um diagnóstico severo: pneumonia em ambos os pulmões. O quadro era delicado — infecção causada por múltiplos microrganismos, inflamações, fibroses e dificuldade na respiração.
Enquanto esteve hospitalizado, o Papa alternou entre melhoras e crises. Passou por transfusões de sangue devido à baixa contagem de plaquetas, teve insuficiência renal leve, enfrentou uma crise respiratória prolongada semelhante à asma e chegou a usar ventilação mecânica não invasiva para auxiliar na oxigenação.
Mesmo assim, gravou uma mensagem de voz agradecendo aos fiéis pelas orações. Um gesto que revelava, mais uma vez, seu vínculo inquebrável com o povo. Os médicos, por outro lado, mantinham cautela: o prognóstico era “reservado”.
Francisco carregava, desde jovem, marcas profundas na saúde. Teve parte de um pulmão removido após sofrer pleurisia. Em 2021, passou por uma cirurgia delicada que removeu 33 centímetros do cólon, e, em 2023, voltou duas vezes ao hospital — uma por bronquite e outra para nova cirurgia abdominal. Nos últimos tempos, usava cadeira de rodas devido às dores no joelho e nas costas.
Apesar de tudo, nunca deixou de trabalhar. Nunca deixou de olhar o mundo com os olhos do Evangelho.
Hoje, o silêncio em Roma é pesado. Francisco não foi apenas um Papa. Foi um reformador, um símbolo de humildade e coragem em tempos de ódio e polarização. Um homem que acreditava que a ternura é revolucionária.
E agora, parte. Mas o que ele plantou — com gestos, palavras e escolhas — continua crescendo. Nas periferias, nas casas simples, nos corações dos que ainda acreditam num mundo mais justo.
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