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O ódio digital e a nova linguagem da internet: como 'Adolescência' expõe a cultura redpill e os fóruns tóxicos

A educação digital precisa ser levada mais a sério?

Série Adolescência
Crédito: Netflix

A Netflix lançou a minissérie Adolescência e, rapidamente, a produção se tornou um dos temas mais discutidos da cultura pop. Mas não é só pelo enredo ou pela estética que a série chama atenção. O que está em jogo aqui é algo muito maior: a forma como a internet molda a juventude e cria espaços onde a misoginia, o extremismo e o ódio são normalizados. Adolescência joga luz sobre um fenômeno real e urgente — o crescimento de comunidades redpill, incel e outros submundos digitais que influenciam o comportamento de adolescentes no mundo todo.



A nova linguagem da internet


Na série, a comunicação digital não é só um detalhe; ela é parte da narrativa. Emojis ganham significados próprios, gírias se transformam em códigos e, muitas vezes, o discurso se esconde por trás de memes e ironias. Mas esse vocabulário vai além de piadas inofensivas. Quem frequenta certos fóruns e grupos online sabe que há uma subcultura se formando ali — uma linguagem carregada de ressentimento e radicalização.


O redpill, por exemplo, surgiu como um termo retirado de Matrix, mas foi apropriado por comunidades misóginas que pregam que os homens devem “acordar para a realidade” e enxergar as mulheres como manipuladoras ou aproveitadoras. Já os incels (involuntary celibates, ou celibatários involuntários) criaram uma ideologia que culpa as mulheres por sua frustração sexual, alimentando discursos de ódio que já tiveram desdobramentos violentos no mundo real.


Da tela para a vida real

Crédito: Netflix
Crédito: Netflix

O que A Adolescência faz de maneira brilhante é mostrar como esse tipo de pensamento não fica restrito à internet. Ele atravessa a tela e afeta o comportamento dos jovens no mundo real. O protagonista — um adolescente que se sente deslocado e sem perspectivas — encontra nesses fóruns um espaço de pertencimento. Mas, ao invés de acolhê-lo, essas comunidades reforçam suas inseguranças e o convencem de que ele deve odiar o que não pode ter.



Isso não é ficção. Casos de ataques motivados por discursos misóginos têm se tornado cada vez mais frequentes. Em 2014, um atentado na Califórnia foi cometido por um jovem que se identificava como incel. No Brasil, grupos extremistas já foram ligados a atos violentos em escolas. E o pior: os algoritmos das redes sociais tendem a empurrar conteúdos cada vez mais radicais para usuários vulneráveis.


Por que isso importa?


A série não só retrata essa realidade como nos obriga a encará-la. Estamos diante de uma geração que cresceu conectada, mas muitas vezes sem filtros para entender o que consome. O ódio se disfarça de humor, a misoginia se esconde sob o rótulo de “liberdade de expressão” e, no fim, adolescentes acabam absorvendo ideologias perigosas sem nem perceber.


A pergunta que fica é: estamos preparados para lidar com isso? As redes sociais deveriam ter mais controle sobre esses espaços? A educação digital precisa ser levada mais a sério?


Adolescência escancara um problema que já existe, e o mínimo que podemos fazer é encarar a discussão. Porque, na vida real, não dá para apertar “sair do grupo” e fingir que nada aconteceu.

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