31 de out. de 20223 min para ler

Noites Brutais pega elementos do terror tradicional em narrativa tensa e que prende até o fim

Noites Brutais oferece algumas questões em aberto ou então, não revela por completo os fatos ocorridos

Os minutos iniciais de Noites Brutais (Barbarian, 2022) atraem logo o espectador. É impossível não ficar absorto com o que começa a ser visto na tela. A jovem Tess (Georgina Campbell) chega num bairro praticamente abandonado e escuro de Detroit no meio da noite para ficar numa casa alugada pelo aplicativo Airbnb. Mas, prontamente, se assusta ao saber que a residência já possui um inquilino, Keith (Bill Skarsgård). Depois de vencer sua desconfiança e sem encontrar hotéis livres pela cidade, resolve dividir a casa junto com Keith.

O retrospecto de Bill Skarsgård nas suas representações em diversas produções de Terror, a exemplo do palhaço Pennywise de It (2017) ou mesmo o misterioso Roman Godfrey da série Hemlock Grove, conquista o espectador e o deixa instigado sobre seu personagem neste filme. Então, a indicação do ator para o elenco foi de uma criatividade genial e um chamariz de imediato para a produção.

Envolvendo o cinéfilo gradativamente e com diálogos charmosos que aproximam os dois personagens, o diretor Zack Cregger aproveita para criar toda uma ambientação que revelará realmente o que está escondido em seu roteiro. Apesar de velhos clichês no gênero, é a forma como os elementos surgem que conseguem dar pistas ou deixam o espectador ainda mais na angústia: a porta que se fecha e tranca por fora, barulhos, novos cômodos descobertos, o aviso de que algo ali é perigoso, o passado do lugar. Além disso, mesmo em cenários bem escuros, as cenas são bem filmadas, carregadas de pânico e não deixando o espectador perdido.

Além disso, a película cria ambiguidades em quem a assiste. O perigo está na casa? Ou o bairro escuro e desolado esconde o real perigo? Até mesmo, algum dos personagens pode estar escondendo sua real intenção e representar a possível ameaça. Até mesmo quem alugou a casa para Keith e Tess pode estar por trás de algo bem ruim. Mas para isso, somos convidados a ir adiante, observando cada cena detalhadamente.

Outro ponto interessante da película é a forma como foi criada e surge na tela, praticamente apresentando 3 atos (prefiro nomear assim). O primeiro ato seria a apresentação do filme em si com a caracterização do ambiente e dos personagens. O segundo ato entrega novos elementos e surpresas que serão fundamentais para a tensão criada previamente através do primeiro ato. Ambos se adicionam sabiamente e criam um terceiro ato que responde a algumas questões sobre a narrativa.

Por conta disso, é fácil o espectador pensar em ter visto um inesperado e prematuro desfecho do filme, conforme o diretor sugere numa das cenas mais impactantes e inesperadas da trama. É certo que o filme nos reserva muitas dúvidas do que realmente está acontecendo ali. Em contrapartida, é a partir dessa cena imprevista que os fatos tornam-se ainda mais assustadores. Inclusive, adiante, um flashback oportuno mostra o passado do lugar com alguns personagens fundamentais para se entender, em parte, o que acontece naquele estranho lugar.

Noites Brutais oferece algumas questões em aberto ou então, não revela por completo os fatos ocorridos. Existem cenas inconclusas, de propósito, fazendo com que nós possamos relacionar passado e presente para entender melhor a tensão criada. Isso, de forma alguma, impede o seguimento da história do filme, embora deixe no cinéfilo algumas lacunas, além de garantir brechas para possíveis sequências ou até mesmo spin-off.

O único ponto negativo do filme é apelar para um fechamento acelerado e forçado, isso acaba diminuindo o suspense que era a tônica da trama. O gore entra mais em funcionamento quando nem precisava. Os personagens até então inteligentes parecem se entregar a estupidez em algumas cenas que poderiam recebido um melhor capricho.

Creeger é um bom diretor para o gênero, não podemos negar. Consegue tecer suas técnicas e estratégias para segurar o espectador atento sem uso exagerado de sangue, reinventando elementos tradicionais e clichês do gênero, além de dar dimensão narrativa mesmo com um único cenário (aqui, a casa). Pronto para entrar na casa de número 8831?