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Hesse Kassel – La Brea: caos, catarse e grandiosidade em um dos álbuns mais intensos do ano



Uma das bandas mais promissoras da cena chilena

Hesse Kassel
Imagem: Reprodução

Não há como sair ileso de uma audição de La Brea. O primeiro álbum do Hesse Kassel não é apenas um conjunto de canções, mas uma experiência sensorial que atira o ouvinte em um redemoinho de emoções, ruídos e grandiosidade instrumental. Em quase 80 minutos de duração, a banda chilena constrói um registro que transita entre o épico e o vulnerável, entre a euforia e o colapso, sempre conduzido pela dramaticidade cortante de Renatto Olivares.


Desde os primeiros segundos de Postparto, faixa que abre o disco com mais de dez minutos de guitarras cortantes, batidas irregulares e versos inquietos, fica claro que o Hesse Kassel quer mais do que apenas fazer barulho: quer causar impacto. E consegue. A cada nova camada instrumental, a cada mudança de andamento, a sensação de vertigem só cresce. É um álbum que exige fôlego, que empurra o ouvinte contra a parede e o desafia a continuar.


Claro que, em meio a toda essa carga emocional e complexidade sonora, as influências do grupo ficam evidentes. É impossível ouvir La Brea sem lembrar de Black Country, New Road, especialmente pela forma como Olivares declama os versos com uma intensidade quase teatral, muito próxima à de Isaac Wood. Há também ecos de Swans e Black Midi, seja na construção de climas pesados e caóticos, seja no jogo entre tensão e explosão que marca cada faixa. Mas longe de soar como mera cópia, o Hesse Kassel imprime personalidade ao trabalho, equilibrando técnica, emoção e um senso de imprevisibilidade que torna cada audição única.



Canções que constroem, destroem e reconstroem


E se o álbum já começa em chamas, ele segue queimando com ainda mais intensidade. Anova e Americana caminham por uma linha quase motivacional, começando contidas antes de desabrocharem em algo feroz. Já En Tiempo Muerto brinca com os contrastes de maneira brilhante: abre com força, desacelera, depois volta a crescer, num ciclo que prende do início ao fim. Moussa, por outro lado, é pura grandiosidade. Desde os primeiros acordes, a faixa se impõe como um dos momentos mais intensos do álbum, levando a experiência a outro nível.


E então, quando parece que já fomos levados ao limite, surge Yo La Tengo, que fecha o álbum de maneira avassaladora. É impossível não pensar em Michael Gira e o Swans em sua fase mais sufocante. Mas, novamente, a identidade do Hesse Kassel está ali, sólida e inconfundível.



Mais do que um exercício de experimentação, La Brea é um álbum de contrastes. É sobre intensidade e fragilidade, sobre controle e descontrole. Cada faixa é como uma peça de um quebra-cabeça emocional, guiando o ouvinte por um labirinto de sensações. Não é um disco fácil, não é para audições descompromissadas. É um álbum que pede entrega, que exige ser sentido na pele.



E talvez seja exatamente isso que faz do Hesse Kassel uma das bandas mais promissoras da cena chilena: a capacidade de transformar caos em beleza, barulho em catarse, música em algo maior do que simplesmente música. La Brea é um convite ao abismo – e a melhor parte é aceitar o chamado.

 

 

La Brea

Hesse Kassel


Ano: 2025

Gênero: Pós-Punk, Art Rock

Ouça: Yo La Tengo, Postparto

Pra quem curte: Squid, Black Midi

Humor: Denso, Climático, Enérgico

 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

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