Se você tinha algum receio ou dúvida sobre o potencial dessa galera, este talvez seja o álbum certo para você

Desde o início, o Inhaler se firmou como uma banda de guitarra exuberantes, apostando em refrãos massivos e uma estética rock de arena que parecia cada vez mais rara entre as bandas contemporâneas. De It Won’t Always Be Like This (2021) a Cuts & Bruises (2023), o quarteto irlandês refinou seu som sem perder a essência juvenil que os colocou no radar. Mas é em Open Wide, seu terceiro e mais ambicioso disco, que o grupo finalmente escancara as portas para uma reinvenção sonora um tanto graciosa e contagiante.
Se os trabalhos anteriores mergulhavam nas águas melódicas do britpop e do indie rock apresentado no início dos anos 2000, Open Wide leva o Inhaler para um terreno mais expansivo e eclético. Aqui, temos uma banda alegremente confiante na busca por sua identidade sonora. Sob a majestosa e atenciosa produção de Kid Harpoon — conhecido por sua mão certeira em álbuns de Harry Styles e Florence + the Machine — o disco abraça elementos do pop, synth-rock e até pitadas da disco music, trazendo um brilho renovado à identidade da banda. As guitarras ainda estão lá, mas agora dividem espaço com sintetizadores exuberantes, grooves oitentistas e melodias que transbordam confiança e amadurecimento.
O single principal, Your House, foi o primeiro sinal dessa mudança. Flertando com o glam rock e adornado com um coral gospel, a faixa troca o peso das guitarras por uma grandiosidade pop que, longe de diluir a identidade da banda, a amplifica. Um dos pontos altos do disco. E essa abordagem mais expansiva permeia todo o álbum. Billy (Yeah Yeah Yeah) mergulha no electro-pop e convence com sua melodia que busca o retrô sem esquecer da modernidade.
Even Though resgata a euforia das pistas de dança dos anos 80 e vai te fazer mexer o esqueleto e pensar: que disco delicioso é Open Wide. Em X-Ray, a banda parece ter aberto a porta para uma atmosfera inusitada que transita entre The Smiths e um folk rock convidativo e elegante. A diversidade de referências nunca soa dispersa; pelo contrário, dá ao disco uma energia pulsante e dinâmica.
Se você tinha algum receio ou dúvida sobre o potencial dessa galera, este talvez seja o álbum certo para você entrar de cabeça. Isso é tudo aquilo que a gente gostaria de estar vendo o U2 fazer.
Apesar dessa nova estética mais pop, o Inhaler ainda encontra espaço para momentos de catarse coletiva. Still Young e A Question Of You foram feitas para serem cantadas com os braços ao redor dos amigos em um festival, enquanto a faixa-título Open Wide talvez seja a mais poderosa que o grupo já escreveu. Durante muito tempo, o quarteto evitou comparações com o U2 (o vocalista Elijah Hewson, afinal, é filho de Bono), mas aqui eles finalmente abraçam um épico de estádio, transformando-o em um hino de esperança para tempos incertos.
Se os primeiros discos do Inhaler mostravam uma banda tentando provar sua relevância, Open Wide exala a confiança de um grupo que finalmente entendeu sua própria identidade. É um álbum maior, mais ousado e mais divertido, onde cada faixa parece feita para soar ainda melhor ao vivo. E talvez seja exatamente isso que torna o disco tão irresistível: ele é ao mesmo tempo catártico e reconfortante, um lembrete de que a música pode ser tanto um refúgio quanto um convite para dançar até o sol nascer.

Open Wide
Inhaler
Ano: 2025
Gênero: Indie Rock, Alternativo, Indie Pop
Ouça: Your House, Even Though, Open Wide
Pra quem curte: U2, The 1975
Humor: Animado, Inovador
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