‘Grand Prix’, do Teenage Fanclub, é a arte de fazer melodias doces com sentimentos que nunca cicatrizam
- Marcello Almeida

- 5 de jun.
- 3 min de leitura
Um disco que transforma saudade em canção pop perfeita

Tem canções que não passam. Canções que grudam em você como uma lembrança boa, daquelas que às vezes doem — mas que você nunca quer esquecer. Canções que, em meros três minutos, são capazes de te transportar para um lugar que talvez nem exista mais, mas que continua vivo dentro de você. É isso que uma canção pop de verdade faz: toca suave, entra fundo e permanece como um filme que não termina nunca.
E é exatamente isso que o Teenage Fanclub fez em Grand Prix, lançado em 1995, num dos anos mais barulhentos e eufóricos da história do pop britânico. Enquanto o britpop se gladiava nos tablóides, entre as rixas de Oasis e Blur e a pose de estrelas descontroladas, o Fanclub seguia o próprio caminho. Silenciosos, calmos, apaixonados. Eles não queriam ganhar nada. Queriam apenas fazer música que fizesse sentido — e fizeram.
Grand Prix é um disco de power-pop ensolarado com alma melancólica, um sopro de doçura e ternura em meio ao caos da indústria. Treze faixas que parecem saídas diretamente do coração de quem aprendeu a transformar saudade em harmonia vocal. Byrds, Beach Boys e Big Star estão nas entrelinhas do som — mas o Fanclub tem identidade própria. Tem cheiro de chuva no verão. Tem gosto de amor antigo. Tem a textura de uma carta escrita à mão, dobrada com cuidado e guardada na gaveta errada.
Desde o começo com “About You”, o disco já deixa claro: isso aqui não é sobre hits fáceis. É sobre beleza. É sobre sentir. A faixa abre como um bom dia sussurrado — cativante, serena, com um refrão que cola na alma. Na sequência vem “Sparky’s Dream”, que soa como uma lembrança doce demais pra ser real. É uma canção que sorri com os olhos fechados, como quem dança sozinho no quarto, lembrando de um amor que já foi.
Mas é em “Don’t Look Back” que o Teenage atinge uma espécie de perfeição pop. Três minutos de melodia viciante, versos que parecem declarações românticas embaladas em fita cassete: “Eu roubaria um carro pra te levar pra casa.” Soa juvenil, mas também eterno. Não é ironia, não é pose — é amor dito com simplicidade, como toda grande canção pop deve ser.
O disco inteiro tem esse frescor. Esse brilho que vem de dentro. “Verisimilitude” é um exemplo disso: equilíbrio entre melodia e sentimento, como se tudo ali tivesse sido composto com a precisão de quem ama muito o que faz — e sabe exatamente o que está dizendo, mesmo sem explicar tudo. Os vocais e arranjos se entrelaçam com naturalidade, como um abraço entre amigos antigos. Tudo soa verdadeiro.
Grand Prix marca uma virada. A banda já não era mais aquela do caos encantador de Bandwagonesque (1991), o disco que deixou até Nevermind para trás na eleição da Spin. Aqui, o Teenage atinge maturidade emocional e sonora. O som passa a flutuar, menos distorção, mais harmonia. Menos jeans rasgado, mais cardigã. A guitarra de Raymond McGinley se torna mais melódica, quase como uma flauta distorcida. A bateria de Brendan O’Hare dá lugar a Paul Quinn, mais contido, mais sereno — mas sem perder o pulso.
“Neil Jung” talvez seja a faixa que mais expõe a alma do disco: homenagem sutil ao mestre Neil Young, com um solo que parece escrito pra tirar um sorriso do velho canadense. É canção de adoração, de influência bem digerida, que mostra o Fanclub como uma banda que olha para os seus ídolos com respeito, mas já sabe o próprio caminho.
No fim das contas, Grand Prix é isso: um disco que não quer provar nada — só tocar o que há de mais bonito no sentimento humano. Ele não grita. Não corre. Ele voa baixo, com o coração em chamas. E quando você percebe, já foi levado.
Hoje, trinta anos depois, o Teenage Fanclub segue firme. Não fazem barulho. Não ocupam capas. Mas seguem fazendo música com aquele mesmo calor de sempre. Como se ainda estivessem naquele estúdio dos anos 90, gravando por amor — e só por isso. Os sentimentos mudam, os tempos passam, os cabelos embranquecem. Mas há uma coisa que nunca muda: quando o Teenage toca, você sente. E esse sentimento, amigo, é eterno.















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