Uma produção que coloca Zilbalodis como um dos grandes mestres da arte, título que merecidamente pertence a grandes nomes como Hayao Miyazaki e John Lasseter

As animações passaram a fazer cada vez mais parte da vida dos cinéfilos. E não é por menos. Não apenas entreter o público infantil, tal gênero cinematográfico trouxe uma nova linguagem, conseguindo incorporar um senso crítico e uma linha de reflexão, sobretudo ideal para se encaixar na vida adulta.
O Cinema já conseguiu deixar grandes clássicos quando o assunto é animação. A vanguarda buscada por Wall-e (2008), a valorização da amizade no sensível Mary & Max – Uma Amizade Diferente (2009), as valiosas reflexões e emoções de Robô Selvagem (2024). Produções memoráveis, não importa se foram criadas usando a antiga técnica do Stop-motion ou utilizando a avançada computação gráfica.
Acostumado a realizar curtas metragens, foi em 2019 que o letão Gints Zilbalodis estreou nos longas de animação. E desde então, vem sendo aclamado junto a público e crítica. Sua primeira animação, Away – A Viagem, comove ao mostrar a história de amizade entre um rapaz e um pássaro que precisam escapar de um espírito maligno que os persegue. Gints produziu e animou o longa metragem, assim como fez a própria trilha sonora dele.
Esse dom do diretor acabou ecoando na atualidade. Sua mais nova criação, Flow (2024), ganhou várias premiações pelo mundo, sobretudo o valioso prêmio de Melhor Animação no Globo de Ouro. Também garantiu aplausos no Festival de Cannes. Certamente é um dos grandes favoritos do Oscar nessa categoria.
Na animação, acompanhamos a trajetória de um gato que agora precisa se unir a outras espécies animais para escapar de um lugar inundado. Isolados num barco a deriva, o grupo de animais precisa esquecer suas diferenças caso queiram sobreviver. Uma história que envolve amizade, resiliência e aceitação das diferenças.
Sem usar diálogos e sem colocar humanos na trama, difícil não sentir carisma pelos animais que vemos em tela. Interessante como a animação capta as características dos animais que temos ali. Zilbalodis conseguiu manter a natureza intacta de cada animal e isso ficou perfeito para a proposta do filme.
Mesmo assim, a animação consegue transmitir as emoções de cada animal por meio de diversas expressões faciais que podem passar a sensação de pavor ou mesmo de piedade.

O grupo de animais precisa se unir em prol de sua sobrevivência, bem como vencer algumas adversidades que surgem como águas agitadas, escassez de alimentos e falta de terra firme. A jornada de nossos personagens será nada fácil até os instantes finais, quando algumas cenas surpreendentes e sensíveis ainda estão por vir.
O visual também é de encher os olhos. Com um início bem agitado, a floresta sendo ‘engolida’ pela inundação assusta (num momento bem tenso da história), mesmo que entregue um show de cores com peixes coloridos e brilhantes, o verde realçado das folhagens e vegetação, os animais desesperados em fuga procurando por abrigo ou terra firme.
A trilha sonora orquestrada e bem composta, com suas várias nuances (de lenta para mais agitada), combina com várias passagens do longa metragem. Muitas vezes, a sonoridade tensa nos leva a pensar que algum perigo ainda está por chegar.
Interessante como muitos detalhes da animação vão além dos personagens. Os objetos vistos são de extrema importância. Um espelho que um lêmure carrega pode servir de conforto para momentos agitados ou mesmo um objeto que parecia perdido pode salvar um dos personagens num dos momentos mais extremos da trama.
Mesmo que Flow traga algumas cenas buscando o surreal, o transcendentalismo, que acabam sem explicação na história ou deixando alguma dúvida, essa é uma animação para todas as idades, dita muitas regras para o futuro do gênero. Uma produção que coloca Zilbalodis como um dos grandes mestres da arte, título que merecidamente pertence a grandes nomes como Hayao Miyazaki e John Lasseter.

Flow
Straume
Ano: 2024
Gênero: Animação
Direção: Gints Zilbalodis
Roteiro: Gints Zilbalodis
País: França, Bélgica
Duração: 85 min
NOTA DO CRÍTICO: 9,0
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