O espectador precisa estar ciente que esse é um filme que progressivamente vai se tornando amargo

Farol, guia para muitas embarcações em alto-mar, é um elemento comum no Cinema. Entretanto, nem sempre ele pode estar associado a uma sensação de tranquilidade e de segurança. Muitos filmes trazem a estrutura para recorrer a temas que estão ligados a perdas, solidão, isolamento, sofrimento e insanidade.
Através da história do Cinema, são muitos os filmes que poderiam se encaixar no exemplo descrito acima. Um deles, bem recente, foi O Farol (The Lighthouse, 2019) de Robert Eggers. Estrelado por Willem Dafoe e Robert Pattinson, o filme continua marcante para público e crítica, rendendo vários comentários e discussões acaloradas pela internet.
Farol da Ilusão (The Sand Castle, 2025) é uma produção que coloca uma família que vive dentro de um farol que lhes serve de abrigo. Os quatro integrantes são: Nabil (Ziad Bakri) e sua esposa Yasmine (Nadine Labaki), a filha Jana (Riman Al Rafeea em grande interpretação) e o filho Adam (Zain Al Rafeea). Eles precisam viver com os poucos recursos que tem e também esperam, insistentemente, por alguma embarcação que lhes tire da ilha.
A película foi produzida em conjunto com Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Líbano. O filme tem a direção do americano Matty Brown. Ele participa do roteiro junto da egípcia Hend Fakhroo e da jordaniana-palestina Yassmina Karajah. Essa mistura de nacionalidades também se encontra no elenco, Ziad Bakri é palestino, Nadine Labaki é libanesa e Zain Al Rafeea é sírio-norueguês.
O início é belo, com toda uma carga poética. A garotinha Jana corre pelo cenário atrás de um objeto esvoaçante nos contando uma espécie de história tirada de sua imaginação. Ela insiste nas palavras ‘inspirar’ e ‘respirar’. De repente, a trilha sonora abruptamente fica distorcida, se interrompe e o silêncio surge com Zana olhando assustada para algo.
O espectador precisa estar ciente que esse é um filme que progressivamente vai se tornando amargo, tenso, pesado e que amplifica o cenário isolado em que a família se encontra para tecer sua narrativa que monta um quebra-cabeça. Apesar disso, podemos pensar de outra forma por conta da delicadeza de algumas cenas, da união em família e até nos desenhos coloridos de Zana e na sua imaginação.

Matty é inteligente ao apresentar elementos que surgem e que intrigam mais o espectador. Muitos deles serão importantes para o desfecho da história ou mesmo expressam ideias de simbolismos e metáforas. Um objeto amarelo enterrado na areia, um sapato vermelho encontrado na ilha, uma construção pegando fogo, as sombras das roupas estendidas ao sol que se assemelham a vultos ligeiros.
Não apenas esses elementos do cenário, como também as próprias mudanças climáticas que criam momentos de tensão no filme. Uma tempestade com ventania extrema e o crescente calor causam pavor e nos levam a crer que a família não encontrará facilmente sua paz e segurança (e que algo ainda mais mortal e chocante está por chegar).
Farol Da Ilusão segura o espectador até o final, mesmo que sua conclusão deixe um redemoinho em nossas cabeças. Claro que muito do que presenciamos ali, em forma de ficção, é um alerta para o que vemos bastante nos noticiários atuais. E quando isso chega em forma de Cinema em sua catarse necessária, o choque será quase inevitável.
Como diz um dos personagens durante a película, numa frase perfeita: ‘ninguém consegue fugir do passado, um espírito quebrado é pior do que a morte. Perder a família, a voz e a dignidade’. E é exatamente o que Matty pretende transmitir.
Em sua mescla de Suspense, Thriller Psicológico e até Fantasia (sobretudo com a personagem Zana), o diretor consegue simular um mundo real que geralmente é destruído por dores, perdas, falta de esperança, desigualdades, opressão e um passado que não consegue ser esquecido.

Farol da Ilusão
Ano: 2024
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Direção: Matty Brown
Roteiro: Matty Brown
Elenco: Ziad Bakri, Nadine Labaki, Riman Al Rafeea, Zain Al Rafeea
País: Estados Unidos, Emirados Àrabes Unidos, Líbano
Duração: 97 min
NOTA DO CRÍTICO: 7,0
Trailer:
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