top of page
Foto do escritorTiago Meneses

Em True, Jon Anderson mantém sua essência musical, ao mesmo tempo em que explora novas sonoridades e ideias

Atualizado: 31 de out.

Em seu mais novo disco, ao lado da The Band Geeks, Anderson explora temas e sonoridades que relembram o auge criativo da música progressiva dos anos de 1970

Jon Anderson
Foto: Scott Dudelson/Getty Images


Jon Anderson é um desses raros artistas cujo nome por si só evoca admiração e reverência. Sua voz, pura como cristal, etérea e singular, ressoa como uma marca registrada inconfundível, sendo o coração pulsante do som icônico e inimitável do Yes em sua era de ouro. Ao longo dos discos mais emblemáticos e aclamados da banda, Anderson desempenhou o papel de alma vocal, tecendo com sua interpretação única um legado musical que transcende o tempo e toca profundamente diferentes gerações.


Além de sua trajetória com o Yes, Anderson construiu uma carreira solo prolífica e diversificada. Explorando uma vasta gama de gêneros, que vão desde a música eletrônica até a world music, ele sempre soube reinventar-se sem perder sua essência. Sua impressionante versatilidade o levou a colaborações memoráveis com grandes nomes da música, como por exemplo, o compositor Vangelis. Essas parcerias não só expandiram os horizontes de sua própria expressão artística, mas também reafirmaram sua capacidade de transcender fronteiras musicais, consolidando seu lugar como um dos mais criativos e influentes músicos de sua geração.


Seu mais novo disco, True, em parceria com a banda The Band Geeks - que é renomada por suas performances detalhadas e habilidade em recriar sons intricados, especialmente em tributo ao próprio Yes -, Anderson explora temas e sonoridades que relembram o auge criativo da música progressiva dos anos de 1970, criando um álbum que combina a complexidade instrumental e a riqueza melódica típicas do gênero, com camadas de arranjos vocais elaborados, marca registrada de Jon ao longo de sua carreira.



True Messenger começa com energia e intensidade, introduzindo o álbum à uma vibração forte e envolvente. Anderson está em ótima forma, entregando uma performance poderosa que realmente dá vida à música. Com arranjos bem construídos e um ritmo que flui de forma natural, a peça se destaca como uma excelente abertura para o álbum, já deixando claro que ele entregará para o ouvinte uma experiência empolgante.


Shine On proporciona uma continuidade empolgante no álbum. O destaque aqui vai para o trabalho de baixo que entrega um groove consistente e envolvente, servindo como uma base sólida para o restante dos instrumentos. A linha de baixo, além de bem executada, adiciona uma ótima profundidade à faixa, fazendo com que a peça brilhe de uma forma especial, com aquele toque de nostalgia fazendo lembrar os melhores momentos do Yes.


Counties and Countries, com seus quase 10 minutos, é um dos dois épicos do disco. Logo no seu início a música entrega uma atmosfera cinematográfica. O trabalho de guitarra emocional e impactante faz claramente um aceno à Steve Howe, intensificando a narrativa da peça. Bastante dinâmica, é oferecido ao ouvinte uma jornada musical complexa e riquíssima em nuances, onde tudo é produzido de uma maneira claramente bem pensada. Mas sem dúvida alguma, a melhor parte é a final, com teclas ao melhor estilo Wakeman e Anderson fornecendo um vocal intenso.


Build Me an Ocean, nem sempre baladas lentas demais me agradam, no entanto, eu estaria sendo injusto se não reconhecesse o apelo emocional que é entregue aqui. Desde o início, é criado uma atmosfera suave e contemplativa que se destaca pela sua simplicidade e sinceridade com que tudo é executado. Seus arranjos delicados conseguem soar muito dramáticos, enquanto que a interpretação de Anderson carrega uma vulnerabilidade genuína que faz cada verso ressoar de maneira profunda.


Still a Friend, novamente encontramos linhas robustas de baixo e vocais inspiradíssimo de Anderson. Mas também existe um porém, inicialmente são muitas ideias musicais se sobrepondo e tornando o fluxo um pouco fragmentado. Embora essas mudanças constantes tragam variedade, a faixa acaba parecendo um pouco sobrecarregada, como se estivesse tentando explorar direções demais ao mesmo tempo. Poderia ser melhor? Poderia. O que não quer dizer que também seja uma boa música – principalmente na sua segunda metade.


Make it Right, inicia por meio de um violão cativante. Tem um andamento lento e é centrada nos vocais em uma melodia que fica facilmente na cabeça, revelando uma simplicidade que destaca a performance de Anderson e as emoções transmitidas. Só acho que a música poderia se beneficiar de passagens instrumentais mais amplas que dessem aos músicos a chance de explorar temas musicais com mais profundidade. Ainda assim, possui um belo solo de guitarra como destaque.


Realization Part Two soa como uma espécie de extensão natural da faixa anterior, mantendo um senso de continuidade e fluidez entre as duas músicas. A batida descontraída e as linhas melódicas simples criam uma atmosfera agradável e acolhedora, convidando o ouvinte a mergulhar na suavidade dos acordes e no charme da percussão.


Once Upon a Dream, será que chamar de obra-prima serie exagero? De qualquer forma, esse épico de mais de 16 minutos é incrível.  Desde o começo, a faixa se destaca como uma experiência musical poderosa. Toda a sua estrutura é impecável, cheia de contrastes envolventes que conseguem manter sua intensidade o tempo inteiro. Apesar de ser maravilhosa do começo ao fim, é a parte final que, por meio do seu toque de grandiosidade e emoção, consegue capturar a essência do Yes em sua melhor fase, ao mesmo tempo em que é incluída uma magia particular de Anderson, criando um encerramento espetacular que amarra de maneira brilhante tudo que a peça entregou até aqui. Aquele tipo de música que já nasce com o status de clássico.


Thank God é a faixa que encerra o disco. Vi em algum lugar que Anderson aqui presta uma homenagem à sua esposa. Uma música discreta e suave, quase como um suspirto final e que traz uma sensação de paz e amplitude. A simplicidade da composição e a leveza dos arranjos deixam um efeito acolhedor, permitindo que o ouvinte absorva e reflita sobre toda a experiência do álbum. Uma excelente maneira de encerra essa lindíssima jornada musical.


É realmente gratificante ver artistas como Jon Anderson, aos 79 anos, ainda dedicados a entregar trabalhos sólidos e relevantes. Isso não apenas evidencia sua paixão duradoura pela música, mas também ressalta sua habilidade de continuar inovando e se conectando com o público. True é uma demonstração clara de como ele mantém sua essência musical, ao mesmo tempo em que explora novas sonoridades e ideias. E é exatamente essa combinação de respeito pelo legado e vontade de se reinventar que o torna tão especial.

 

True

Jon Anderson


Ano: 2024

Gênero: Rock Progressivo

Ouça: "True Messenger", "Counties and Countries", "Once Upon a Dream"

Pra quem curte: Yes 70's


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,5

 

Ouça, "Once Upon a Dream"


38 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page