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Foto do escritorTiago Meneses

Em Night Reing, Arooj Aftab entrega um álbum que exige o estado de espírito apropriado para ser plenamente apreciado

O álbum possui profundidade emocional e produção detalhada, combinando instrumentos tradicionais e modernos

Arooj Aftab
Foto: Ebru Yildiz


A paquistanesa Arooj Aftab é uma cantora, compositora e produtora musical, nascida em Lahore, desenvolveu um interesse precoce pela música, explorando desde cedo as ricas tradições musicais de sua cultura. Se mudou para os Estados Unidos para estudar na Berklee College of Music, uma das escolas de músicas mais prestigiadas do mundo. Foi durante o seu tempo na Berklee, que ela aprimorou suas habilidades técnicas e teóricas, ao mesmo tempo em que começou a experimentar e explorar uma fusão única de estilos e gêneros como o folk, jazz, música clássica sul-asiática e qawwali, esse último, uma espécie de canto devocional islâmico.


O trabalho de Aftab é marcado por sua voz celestial e emotiva e que serve como um fio condutor por meio de composições evocativas. Sua habilidade em tecer diferentes influências musicais em uma tapeçaria coesa tem lhe rendido reconhecimento internacional e uma base grande de seguidores. Seu som transcende barreiras culturais e linguísticas, oferecendo uma experiência que é ao mesmo tempo familiar e nova. Ao integrar suas raízes culturais com técnicas e estilos contemporâneos, ela cria um som global que acaba refletindo em sua jornada pessoal e artística.


A cantora tem recebido reconhecimento internacional por seu trabalho, culminando em um marco significativo em 2022, quando ganhou o prêmio Grammy na categoria de Melhor Performance de Música Global pela canção Mohabbat, do álbum Vulture Prince. Este fato não apenas celebrou o talento excepcional de Aftab, mas também marcou um momento importante para artistas sul-asiáticos na indústria da música mundial.


Night Reign, seu quarto disco, é mais um registro belíssimo, porém, não combina com um dia ensolarado, afinal, ele é tão obscuro, introspectivo e denso quanto o nome sugere e a arte da capa faz parecer ser. A atmosfera do álbum é marcada por uma grande profundidade emocional, enquanto que a produção, rica em detalhes, entrega uma combinação de instrumentos tradicionais e modernos, porém, e acima de tudo, sempre mantendo um senso de beleza sombria e serena. Vale destacar também que Aftab canta em inglês e em urdu.


Aey Nehin abre o disco de maneira brilhante, destacando-se por sua delicadeza e profundidade emocional, onde desde os seus primeiros acordes, já estabelece o tom introspectivo e atmosférico que irá permear todo o álbum. Na Gul é impregnada de uma atmosfera emotiva e íntima. A voz de Aftab está carregada de sentimento, transmitindo uma vulnerabilidade que ressoa de uma maneira que parece que estamos ouvindo com a dor e o desejo de alguém que está lidando com a perda de um amor.


Autumn Leaves, pela primeira vez cantando em inglês no disco, dentro de uma instrumentação melancólica, a cantora usa a metáfora das folhas de outono caindo para expressar a melancolia e a saudade de um amor passado, destacando a tristeza e a sensação de vazio deixadas pela ausência da pessoa querida. Bolo Na é uma faixa mais pesada e pulsante por meio de uma batida escovada e baixo em destaque, contrastando com as peças anteriores, traz uma energia mais intensa e uma presença sonora mais robusta dentro de um ritmo que embora não seja muito variável, é bastante marcante.


Saaqi é um dos casos em que eu mesmo sem entender uma palavra, às vezes acho que as músicas soam com a delicadeza e imponência que as suas letras exigem. Uma peça que exemplifica a habilidade de Arooj Aftab em criar músicas que falam diretamente ao coração, independentemente das barreiras linguísticas. Last Night Reprise é uma faixa intrigante que parece ter sido influenciada pela bossa nova, mas com uma abordagem onde as linhas de baixo assumem o papel principal. Uma música que consegue ser ao mesmo tempo relaxante e profundamente envolvente do começo ao fim.


Raat Ki Rani, baixo acústico e piano são bem trabalhados para formar uma base harmoniosa e rica, alguns dedilhados ocasionais de citara adicionam texturas exóticas, enquanto que os vocais entregues com emoção crua elevam ainda mais a peça. Whiskey, em cada nota e melodia a música ressoa com muita profundidade emocional, capturando o delicado equilíbrio entre vulnerabilidade e paixão. Os vocais tocantes pintam um quadro vívido de intimidade e conexão. Zameen é uma balada hipnótica com uma base instrumental fortemente influenciada pelo jazz e que encerra o disco brilhantemente.




É fato que um disco como Night Reign não é algo que vai cair bem a todo instante. Sua abordagem muitas vezes é altamente hipnótica, o que pode fazer com que às vezes ele soe como um remédio para dormir. As faixas, com suas melodias etéreas, criam uma atmosfera envolvente que pode induzir um estado de transe, tornando-o de certa forma inadequado para momentos em que se busca energia ou agitação.


No entanto, quando desfrutado nos momentos certos, revela seu verdadeiro valor. A profundidade e a beleza de suas composições têm o poder de alimentar a alma e confortar o coração de qualquer ouvinte. É um álbum que exige o estado de espírito apropriado para ser plenamente apreciado, recompensando aqueles que se permitem mergulhar em suas paisagens sonoras.

 

Night Reign

Arooj Aftab 


Ano: 2024

Gênero: Jazz de Câmera, Folk Barroco, Qawwali

Ouça: "Aey Nehin", "Saaqi", "Raat Ki Rani", "Whiskey"

Pra quem curte: Jessica Pratt, Shabaka


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Assista o vídeo de "Raat Ki Rani"



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