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Foto do escritorMarcello Almeida

Em Moon Mirror, o Nada Surf traz um disco que celebra o tempo com a doçura do power pop

Atualizado: 26 de set.

 Existe uma leveza nesse disco que combina perfeitamente com seu power pop

Nada Surf
Foto: Paloma Bomé / New West Records


Ouvir um disco do Nada Surf sempre é presságio de bons sons e melodias cativantes, com aquela adocicada atmosfera agridoce das canções pop. Com mais de 20 anos de estrada e 10 discos no currículo, a banda novaiorquina segue trilhando o caminho da fórmula certeira. Difícil apontar um disco ruim na discografia do grupo, algo que me lembra os britânicos do Teenage Fanclub. O fato é que, com o engenhoso e filosófico Moon Mirror (2024), o Nada Surf segue aprimorando e ficando cada vez melhor com o passar do tempo. 


O efeito de envelhecer soa bem para o carismático vocalista Matthew Caws e cia. Caws tem o dom de criar canções líricas, com refrãos grudentos e guitarras pontiagudas, que cativam do início ao fim, seguindo o caminho adotado com o ótimo Never Not Together (2020). A banda, mais uma vez, optou por gravar o novo trabalho no País de Gales com o produtor Ian Laughton.


Se no disco anterior fomos tragados por um conjunto de canções bem formuladas no pop/rock melódico, Moon Mirror traz faixas enérgicas, com guitarras saltitantes e um perfeito equilíbrio entre baixo e bateria. Uma característica marcante no som da banda é o carisma, que aqui se faz presente do início ao fim. "Second Skin", com suas guitarras ensolaradas e uma melodia nostálgica, resgata a sonoridade da banda nos meados dos anos noventa, quando todos estavam na faixa dos 20 e poucos anos. Isso pontua como envelhecer faz bem para o Nada Surf; eles parecem cada vez mais repletos de energia e motivados a escrever letras inspiradoras.


Não estranhe se, logo nos instantes iniciais da melódica e bonita "In Front of Me Now", você se lembrar de bandas como Big Star e The Cars, influências sempre presentes na sonoridade do grupo. Aquele espírito contagiante do power pop vibrante se destaca, enquanto eles celebram a passagem do tempo e a maturidade para lidar com sentimentos e emoções que, anos atrás, pareciam um tormento.



Aqui, eles transformam tudo em doçura e honestidade, como no caso da bela e emotiva "Moon Mirror", uma das mais bonitas e sentimentais do disco, uma faixa que pode te fazer sorrir e chorar facilmente ao mesmo tempo. De qualquer maneira, é uma confluência de sentimentos que brotam suavemente e podem muito bem te pegar desprevenido. Essa é a verdadeira magia de um álbum do Nada Surf; "Inside of Love", de 2001, é uma prova viva disso em nossos dias atuais.


Porém, o amor pode brotar e surgir de onde você menos espera: pequenos gestos, sinais ou até mesmo em uma resposta sem pretensão alguma em um story das redes sociais. E, quando você se der conta, não está mais apenas na porta do amor, mas do outro lado. A vida é uma caixinha de surpresas, e Moon Mirror fala muito sobre isso em suas canções.


Sabe aquele ditado de que uma canção precisa despertar movimentos e emoções? Esse é um disco perfeito para isso. "Losing" é uma faixa pop açucarada, com ótimos arranjos e guitarras deliciosas. De fato, essa pode ser, sim, uma das bandas mais consistentes do indie rock. O novo trabalho entrega prontamente tudo aquilo que esperamos encontrar em um disco do Nada Surf: baladas emocionantes, ritmos propulsivos, guitarras estridentes e ótimas melodias, ancoradas por letras líricas e honestas.



Se, no álbum anterior, o clima era um pouco mais hostil, árido e sombrio, muito influenciado pelo período da pandemia e governo Trump, Moon Mirror se afasta dessas sombras e encontra um sol radiante, com canções muito mais relaxadas e suaves. Eles fazem essas músicas pop de guitarras cativantes há décadas. Pode soar repetitivo, sim, mas o Nada Surf sabe muito bem como fazê-las.


New Propeller” é carregada por acordes cativantes e uma melodia suave, que traz uma boa nostalgia e um sentimento reconfortante. A vibrante "X is You" é impulsionada por acordes de piano envolventes e uma bateria cadenciada. Já "The One You Want" alterna entre um riff de guitarra tenso no início e um verso principal mais leve, com um refrão que ganha força com o apoio de cordas e piano.



"Open Seas" começa como um rock relativamente convencional, mas ganha força ao alcançar a segunda metade do refrão. Uma canção que deixa aquele saboroso gostinho de quero mais. Moon Mirror não é um disco que revoluciona o indie rock, mas é o Nada Surf fazendo aquilo que sabe fazer de melhor. Existe uma leveza nesse disco que combina perfeitamente com seu power pop, tornando a experiência do ouvinte algo divertido e reflexivo ao mesmo tempo.

 

Moon Mirror

Nada Surf


Ano: 2024

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Ouça: "Moon Mirror", "Losing", "In Front of Me Now"

Pra quem curte: Memory Map, Acid Mothers Temple

Humor: Atmosférico, Enigmático, Hipnótico


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 


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