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Foto do escritorTiago Meneses

Em Absolute Elsewhere, a Blood Incantation combina perfeitamente o peso do death metal com influências atmosféricas e toques progressivos

Absolute Elsewhere é um álbum conceitual que explora uma jornada profunda em busca de sentido e conexão dentro de um universo vasto, desconhecido e hostil

Blood Incantation
Foto: Alvino Salcedo


Blood Incantation é uma banda de death metal formada em Denver, Colorado, que rapidamente se destacou na cena do metal extremo por meio de uma abordagem musical bastante atraente. Combinando o peso e a brutalidade do death metal com influências atmosféricas e elementos progressivos, eles criam uma sonoridade densa e que foge dos padrões convencionais. Suas composições são complexas e carregadas de camadas sonoras que transitam entre riffs intensos, passagens psicodélicas e mudanças de ritmo bem elaboradas.


Ao longo dos anos, a banda evoluiu artisticamente, com cada álbum trazendo novos níveis de complexidade técnica e inovação sonora. A música do grupo frequentemente se inspira em temas cósmicos, filosóficos e existenciais, o que se reflete tanto nas letras quanto nas atmosferas criadas em suas composições. Essas inspirações conferem um ar místico e quase ritualístico à sua música. Essa mistura de peso, brutalidade e sofisticação atmosférica, acaba cativando variados tipos de ouvintes, e não apenas amantes da música pesada e extrema.


Costumo evitar eleger o melhor álbum do ano antes de ouvir todos os lançamentos relevantes até o dia 31 de dezembro. No entanto, diante de uma obra como Absolute Elsewhere, posso dizer tranquilamente — e sem temer que algum lançamento futuro mude minha opinião — que em termos de death metal e metal progressivo, 2024 já atingiu seu auge. Um disco que estabeleceu enorme padrão de profundidade, técnica e impacto emocional. Não é uma experiência musical que sintetiza apenas o melhor do ano do gênero, mas apresenta um grau de excelência que vai demorar ser alcançado dentro desse nicho.



Dando uma conferida em alguns sites que escrevem bastante sobre esse tipo de som, vi que Absolute Elsewhere é um álbum conceitual que explora uma jornada profunda em busca de sentido e conexão dentro de um universo vasto, desconhecido e hostil. Cada faixa leva o ouvinte a uma travessia por paisagens cósmicas repletas de mistério e introspecção. As músicas The Stargate e The Message são divididas em três atos cada, estruturando-se em movimentos que transitam entre o caos e a harmonia, criando um forte equilíbrio entre tensão e tranquilidade.


The Stargate [Tablet I] abre o álbum com uma intensidade avassaladora, mergulhando o ouvinte em uma atmosfera de agressividade e turbulência. As guitarras afiadas e a instrumentação brutal, aliadas aos vocais carregados de raiva, criam um início que parece inabalável em sua ferocidade. No entanto, a faixa se transforma, abrindo caminho para uma sessão psicodélica. Esse momento de calmaria surreal segue por alguns minutos, e então a música retorna a um estado de vigor extremo, encerrando o movimento com uma explosão de energia selvagem que reafirma a natureza da banda.


The Stargate [Tablet II], traz uma colaboração de Thorsten Quaeschning, membro da banda Tangerine Dream. Essa parceria, logo deixa transparecer a direção sonora que a faixa tomará, mergulhando o ouvinte em paisagens sonoras oníricas e atmosféricas. A fusão de elementos eletrônicos e progressivos cria uma tapeçaria musical rica e envolvente, onde melodias etéreas flutuam suavemente, evocando sensações de introspeção. Um universo de tranquilidade e reflexão, contrastando com a ferocidade do movimento anterior – embora aqui aconteça alguns ataques de fúria também.


The Stargate [Tablet III], a terceira e última parte do primeiro épico apresenta uma alternância entre um clima opressivo e passagens de serenidade que remetem ao Opeth. Esses contrastes são habilmente explorados para criar uma dinâmica envolvente que prende o ouvinte e o guia por diferentes atmosferas. A peça também entrega uma inesperada influência da música indiana, trazendo texturas exóticas e um toque místico. O ponto alto, porém, vem com um dos riffs de guitarra mais memoráveis de todo o catálogo da banda.


The Message [Tablet I] inicia sua jornada sonora com uma explosão de agressividade e caos, mergulhando o ouvinte em um turbilhão de intensidade. No entanto, essa ferocidade é suavizada por arpejos delicados que criam uma atmosfera mais amena, proporcionando um respiro momentâneo em meio à tempestade sônica. Apesar desses momentos de tranquilidade, a faixa se desenvolve predominantemente por meio de vocais rosnados e uma instrumentação triturante que emergem a brutalidade característica da banda.


The Message [Tablet II], inicia com uma sonoridade tranquila. No entanto, essa tranquilidade é apenas uma introdução para algo muito mais intenso, onde surgem elementos marcantes e vibrantes que revelam o seu lado mais visceral e incendiário, com a banda imprimindo uma energia poderosa e explosiva. Porém, mesmo com essa intensidade, o som geral da peça mantém um toque leve, carregado de nuances psicodélicas que evocam paisagens sonoras e atmosferas etéreas que são claramente influenciadas pelo estilo da banda Eloy.


The Message [Tablet III], com mais de onze minutos de duração, é a faixa mais extensa do álbum e uma verdadeira viagem sonora. Desde os primeiros segundos, riffs intensos de guitarra rompem o silêncio, carregados de raiva e furor, enquanto a seção rítmica pulsa com uma energia incrível. No entanto, em seu núcleo, a faixa desacelera repentinamente, afastando a agressividade e dando lugar a uma sonoridade suave e contemplativa. Nesse ponto, o violão e texturas delicadas de sintetizadores surgem cuidadosamente, proporcionando uma transição celestial, mas que logo se dissolve para dar espaço ao retorno da instrumentação visceral e que segue até quase o final da música. O álbum se despede com a sutileza de notas de sintetizadores e o som distante de ondas se quebrando.



Por fim, é simplesmente fascinante a forma como a banda consegue criar uma fusão única, entrelaçando influências de grupos como Opeth em sua fase inicial e ainda adicionando sutis pinceladas de Pink Floyd e Eloy, especialmente em seu álbum Ocean. Absolute Elsewhere revela uma Blood Incantation que ao mesmo tempo em que preserva suas principais características, também aperfeiçoa com maestria a sua abordagem sonora, explorando uma paleta rica e diversificada que desconsidera qualquer tentativa de se encaixar em padrões estabelecidos. Uma verdadeira obra-prima.

 

Absolute Elsewhere

Blood Incantation


Ano: 2024

Gênero: Death Metal, Metal Progressivo, Space Rock

Ouça: "The Stargate [Tablet II]", "The Message [Tablet I]", "The Message [Tablet III]"

Pra quem curte: Opeth (fase inicial), Gorgut


 

NOTA DO CRÍTICO: 10

 

Ouça, "The Message [Tablet I]"


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