"Funeral for Justice" foi lançado em 3 de maio de 2024
Níger, localizado na África Ocidental, tem enfrentado instabilidades políticas desde 2010, culminando em um golpe militar em 26 de julho de 2023, liderado por Abdourahamane Tchiani, que derrubou o governo do presidente Mohamed Bazoum. Uma das medidas drásticas tomadas foi o fechamento das fronteiras do país, afetando profundamente a banda Mdou Moctar, que se viu impossibilitada de retornar ao seu país natal e teve que lançar uma campanha para se manter nos Estados Unidos.
O grupo é composto pelo guitarrista e vocalista Moctar, o guitarrista Ahmoudou Madassane, o baterista Souleymane Ibrahim e o baixista americano Mikey Coltun. eles são conhecidos por seu estilo único de Desert Blues combinado com Rock, inspirado em ícones como Jimi Hendrix, Van Halen, Prince e Led Zeppelin. Suas letras politizadas abordam questões africanas, tornando seu trabalho ainda mais relevante.
Em 2024, o grupo lançou “Funeral for Justice”, um álbum que aborda a situação no Níger e as vivências do povo tuaregue. Este lançamento pela Matador Records apresenta um trabalho introspectivo e admirável, que mistura idiomas como francês e línguas tuaregues, proporcionando um impacto sonoro globalizado sem perder suas raízes.
Tudo isso visa causar o impacto sonoro preciso para inseri-los na globalização do mundo, ao mesmo tempo que apresenta suas fortes referências e influências em um repertório interessante e uma capa que chama a atenção por sua beleza, contrastando vida e morte.
Um dos primeiros singles do álbum, “Imouhar”, traz riffs contagiantes de guitarra em um som frenético e hipnótico, envolto em uma letra reflexiva destinada ao povo tuaregue para que possam preservar a língua Tamasheq como um patrimônio cultural importante. A música critica a substituição das línguas nativas pelas línguas coloniais e enfatiza a necessidade de repassar a língua Tamasheq para que ela não desapareça.
Por falar em colonialismo, “Oh France” traz um lirismo impactante que critica a forma como a França tratou o Níger no passado. Apesar de sua composição pesada, suas melodias são alegres, divertidas e convidativas, servindo como uma excelente porta de entrada para conhecer o trabalho dessa incrível banda, que merece a admiração e os ouvidos atentos na música africana contemporânea.
“Sousoume Tamacheq”, “Tchinta” e “Djallo # 1” trazem uma experiência incrível para o ouvinte. Seja pelos seus solos, coros vocais ou pelos talentos de seus integrantes, elas fazem um som maravilhoso que destaca seus potenciais culturais, dando a sensação de estar em um show da banda. Suas melodias fortes funcionam tão bem em estúdio quanto se fossem tocadas ao vivo.
"Takoba" e "Imajighen" são faixas ricas em conteúdo musical, apresentando melodias interessantes que conseguem ser suaves e, ao mesmo tempo, dançantes, graças à sua parte instrumental acolhedora e aconchegante.
A faixa-título traz uma abertura acolhedora para o som da banda, apresentando muito bem seus elementos musicais e servindo como uma excelente introdução ao Desert Blues, combinando-o de forma harmoniosa com o Rock, tanto clássico quanto moderno. A faixa de encerramento, “Modern Slaves”, proporciona um final digno, deixando em aberto novas possibilidades e novos sons sem perder a essência roqueira e politizada do grupo.
“Funeral for Justice” é uma das grandes surpresas culturais de 2024, destacando Mdou Moctar como uma grande força na música africana contemporânea. Serve tanto para quem quer conhecer o trabalho de Mdou Moctar quanto para quem já conhece e deseja admirar ainda mais. Suas letras politizadas e sonoridade única fazem deste álbum um marco, combinando uma presença carismática com um retrato sincero das aspirações, lutas e esperanças do povo do Níger. É uma obra de arte que merece ser contemplada com atenção e reverência por pessoas do mundo todo.
Funeral for Justice
Mdou Moctar
Ano: 2024
Gênero: Rock
Para quem gosta de: Bombino, Van Halen, Led Zeppelin
Ouça: “Imouhar”, "Oh France", "Funeral for Justice"
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