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Djonga aborda fome, questões sociais e emoções em Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!



"Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!" é um álbum que combina genialidade lírica, riqueza musical e uma maturidade artística impressionante

Djonga
Coniiin / Divulgação.

Gustavo Pereira Marques, mais conhecido como Djonga, é um dos maiores nomes do rap e hip-hop no Brasil. Desde que surgiu em 2010, o rapper mineiro tem se destacado com letras diretas e agressivas, marcadas por fortes críticas sociais. Sua sonoridade vai além do rap tradicional, incorporando influências da MPB, do samba e do funk, não apenas nos arranjos, mas também na forma de compor. Esse diferencial o coloca no mesmo patamar de artistas como Criolo, Marcelo D2 e Emicida, que também mesclam ritmos diversos em discos memoráveis.


Após três anos do lançamento de O Dono do Lugar (2022), Djonga retorna aos estúdios e apresenta "Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!", seu oitavo álbum e, para muitos, o melhor de sua carreira até agora. O disco se destaca pelas parcerias de peso, samples bem trabalhados, faixas impactantes e melodias envolventes, consolidando ainda mais sua identidade artística.


Um detalhe interessante é que Djonga mantém a tradição de lançar seus álbuns sempre no dia 13 de março, a única exceção foi "O Dono do Lugar", que saiu em 13 de outubro.


Com 12 faixas e duração de quase 43 minutos, o álbum chama atenção desde a capa, onde Djonga aparece com lágrimas escorrendo pelo rosto, transmitindo emoção e intensidade. O trabalho conta com a produção refinada de Rapaz do Dread e Coyote Beatz, parceiros frequentes do rapper.



Dentre as faixas, "Demoro a Dormir" se destaca pela participação especial de Milton Nascimento. A música, carregada de reflexões sobre o cotidiano, ainda traz uma citação ao Clube da Esquina, enriquecendo sua profundidade artística.


"Fome" estabelece um poderoso diálogo com "Planeta Fome", de Elza Soares. Djonga revisita sua própria história, abordando a superação da fome por meio de versos poéticos e arranjos deslumbrantes: "Não confio nem no espelho, é que ele é ao contrário / A imagem que me dá não é o que eu represento / Que eu não vou trocar o moleque que só pensa em dançar / Por um adulto covarde que só pensa em sustento."


Em "PPRT!", o rapper escancara o racismo estrutural da sociedade brasileira com um flow impactante. A faixa remete à sonoridade dos Racionais MC’s, não pelos beats, mas pela maneira incisiva como denuncia as injustiças sociais.


O tom crítico continua em "João e Maria", onde Djonga usa backing vocals marcantes e batidas fortes para narrar os problemas sociais do país. A música ainda presta homenagem a Chorão, do Charlie Brown Jr., com versos emblemáticos: "Tentaram me fazer surtar que nem Chorão, mas trago guias no pescoço que valem mais que um cordão / Te põe no topo pelo prazer de tirar de lá, perguntam se tu quer o doce só pra dizer não."


Em "Melhor Que Ontem", o rapper surpreende ao samplear O Último Romântico, da banda Los Hermanos. Com uma combinação de timbres marcantes, a faixa se destaca como uma das mais memoráveis do disco.


O amor também tem espaço no álbum. "QQ Cê Quer Aqui?" retrata as idas e vindas de um relacionamento, enquanto "Te Espero Lá" traz uma melodia apaixonada e um refrão envolvente, contando ainda com a participação brilhante de Samuel Rosa, que até 2023, era vocalista da banda Skank.


A última faixa, "Ainda", encerra o disco de forma sublime com a voz da cantora Dora Morelenbaum. O trecho "Ainda que pouco fosse tudo pra nós, a gente teria a gente" resume a sensibilidade e a profundidade desse trabalho, consolidando-o como uma das obras mais maduras da carreira de Djonga.


"Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!" é um álbum que combina genialidade lírica, riqueza musical e uma maturidade artística impressionante. Djonga transforma suas vivências em um trabalho eclético, poético e, acima de tudo, necessário para a cena do rap nacional.



O disco não apenas reafirma a relevância do artista no cenário musical, mas também se consagra como um dos melhores álbuns brasileiros de 2025. Pelas suas melodias envolventes, letras afiadas, participações especiais e reflexões profundas, essa obra merece ser ouvida e sentida do início ao fim.

 

 

"Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!"

Djonga


Ano: 2025

Gênero: Rap, Hip Hop, MPB

Para quem gosta de: Criolo, Emicida e Mano Brown

Ouça: "Demoro a Dormir", "João e Maria", "Te Espero Lá"

 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Ouça "Demoro a Dormir"



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