Músicos veteranos, mesmo sem o fervor da juventude, ainda demonstram capacidade de produzir música de alto nível
Quando o assunto é Deep Purple, não é necessário escrever muito para começar a falar sobre o seu disco mais novo. Afinal, estamos falando de uma das bandas mais influentes da história do hard rock. Desde sua formação em 1968, a banda tem sido um pilar do rock, influenciando gerações de músicos e fãs com seu som potente. A simples menção ao nome da banda evoca uma história riquíssima de músicas impactantes e performances eletrizantes, preparando o terreno para mais uma adição significativa ao seu repertório já muito vasto.
Após sua entrada na banda substituindo Steve Morse em 2022, Simon McBride mostrou que aprimorou suas habilidades de hard rock com influências de blues em bandas como Snakecharmer e Sweet Savage, estreando em estúdio com o Purple em = 1. Enquanto isso, os demais integrantes já estão sólidos na formação da banda desde o início do século XXI, sendo três membros da MK II, Gilan, Glover e Paice, considerada a formação mais poderosa que o grupo já teve, além de Don Airey e os seus trabalhos enérgicos de teclas.
Sobre o disco, não acredito que a essa altura do campeonato, exista alguém que queira cobrar algo da banda usando como espelho seus discos mais clássicos como In Rock, Machine Head ou Burn. Deep Purple já provou seu valor incontestável e deixou um legado que pouquíssimos deixaram no hard rock e no heavy metal. Os álbuns mencionados são pilares do gênero, imortalizados na história da música, e compará-los com qualquer novo álbum lançado pelo grupo seria uma tarefa ingrata e injusta.
O que temos aqui são músicos veteranos que, mesmo que não com o mesmo fervor da juventude, ainda mostram uma capacidade admirável de produzir música de qualidade. Portanto, em vez de tentar replicar a energia bruta e a inovação de seus primeiros anos, o Deep Purple opta por uma abordagem mais despretensiosa, focando em criar um hard rock agradável e atraente que ainda tem total capacidade de encantar e entreter.
O disco começa de com Show Me e a sua excelente interação entre teclas e guitarra sobre uma seção rítmica poderosa, soando como quem deseja mostrar um lembrete de que Deep Purple ainda tem muito a oferecer, misturando a magia do passado com a criatividade do presente. A Bit on the Side mantém o disco dentro de uma sonoridade pulsante, continuando a energia vibrante estabelecida pela faixa de abertura. A peça mantém o ímpeto do álbum, reforçando a energia e a vitalidade que a banda ainda possui.
Sharp Shooter, é uma faixa que se destaca em seus primeiros segundos pelo seu riff enérgico de guitarra, sendo ele potente e cativante. As teclas entregam notas vibrantes por meio do órgão e um excelente solo de sintetizador, enquanto que a seção rítmica é sólida como uma rocha e trabalha como a espinha dorsal da faixa. Portable Door possui uma cadência bastante otimista e poderia facilmente ter sido extraída do disco Perfect Stranger,. A estrutura rítmica com sua fluidez e groove envolvente faz com que a peça seja imediatamente acessível e agradável.
Old-Fangled Thing é mais uma faixa de hard rock clássico que faz com que o ouvinte viaje ao passado do grupo. Com sua sonoridade nostálgica e vigorosa, a música captura a essência do que fez do Deep Purple uma das bandas mais icônicas do gênero. If I Were You é uma faixa que agradará os fãs daquela linha blueseira, por exemplo, de When A Blind Man Cries. A música se destaca pela sua melodia envolvente e atmosfera introspectiva, evocando o estilo emocional e melancólico que a banda executa tão bem. Possui um solo lindíssimo de guitarra.
Pictures of You apresentando uma estrutura e uma melodia que são imediatamente acessíveis e cativantes, a faixa possui uma sonoridade que a torna potencialmente popular, mantendo ao mesmo tempo a essência da banda. I'm Saying Nothing é um hard rock clássico que captura a característica sonora vibrante e energética da banda. A seção rítmica com seu groove pulsante, fornece a base sólida para que as teclas de Airey e as cordas de McBride possam brilhar da melhor maneira possível.
Lazy Sod faz com que o ouvinte relembre alguns dos momentos mais bem cadenciados do disco Machine Head, evocando a mesma sensação de groove e fluidez que caracterizou clássicos como Lazy e Space Truckin, proporcionando desta forma, uma viagem nostálgica aos seus fãs de longa data. Now You’re Talkin também traz à lembrança o clássico Machine Head, principalmente por meio de suas ótimas invertidas de guitarra e teclado, onde ambas são executadas com precisão e criatividade por cima de linhas firmes de uma bateria enérgica.
No Money to Burn é um excelente exemplo de hard rock de atmosfera poderosa e cativante que combina o frescor da modernidade com a alma do Purple. Traz a clássica combinação de riffs energéticos de guitarra, seção rítmica sólida e vocais afiados. I’ll Catch You é uma balada com espírito blueseiro que se destaca pela profundidade emocional e pela sofisticação musical, sendo marcada principalmente pela voz expressiva de Ian Gillan e pelo belíssimo trabalho de guitarra de McBride. Bleding Obvious encerra o disco com influências notáveis de rock progressivo, oferecendo um final impressionante e sofisticado para o álbum. Uma excelente conclusão para o álbum, mostrando a capacidade da banda de explorar novas direções e expandir seu som enquanto mantém sua identidade.
Ao ouvirmos = 1, não estamos diante de uma banda preguiçosa criativamente ou que não sabe a hora de parar. Em vez disso, ouvimos um disco de hard rock que demonstra que a chama do Purple ainda está claramente acesa, ilustrando sua capacidade de evoluir e continuar a criar músicas relevantes e impactantes, onde mesmo após anos de carreira, a banda permanece comprometida com a entrega de peças de qualidade.
= 1
Deep Purple
Ano: 2024
Gênero: Hard Rock
Ouça: "Sharp Shooter", "I'm Saying Nothing ", "Lazy Sod"
Pra quem curte: Uriah Heep, Rainbow, Black Sabbath
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