David Lynch morreu esse ano, mas deixou um legado intuitivo em seus filmes

Quando Twin Peaks estreiou, a grande pergunta que rondava durante os episódios era: "Quem matou Laura Palmer?". Mas a pergunta principal da série era o que menos importava na história de uma cidade americana em declínio. Com estreia em 1990, conseguiu confundir a cabeça dos telespectadores sem uma narrativa fácil, assim como todos os filmes de David Lynch.
David Lynch começou como artista plástico, logo indo para o cinema. Todos os filmes dele parecem seguir o padrão da América em declínio, com homenagens a filmes noir, surrealistas e oníricos. Ele não se importava se tudo isso tinha uma explicação: "A vida é cheia de abstrações, e a única maneira de entender tudo isso é por meio da intuição.", dizia. Ele usava essa intuição nas imagens captadas em seus projetos.
Em Blue Velvet, de 1985, a violência contra a mulher era clara em uma narrativa noir e urbana ambientada nos anos 50. A mesma violência foi usada em Estrada Perdida, de 1997, com personagens de identidades divididas em mundos hediondos. Eraserhead, O Homem Elefante, Coração Selvagem são filmes que provam o porquê 'Lynchiano' virou adjetivo: ele cria mundos em declínio com sons de horror, transformando o banal em pavor e dispondo o desconhecido como aterrorizante.
Em sua obra prima, Mulholland Drive, de 2001, ele mostra como ele não se limitava ao captar diferentes imagens. Definido como thriller psicológico, todas as cenas parecem desconexas para, então, no final, emaranhar o retrato hollywoodiano de uma atriz fracassada que sonha - todos os filmes dele se parecem com sonhos, ele sempre esteve interessado na mistura do pensamento e da realidade.
Lynch deixa um legado da mistura de sua intuição e sonhos, com personagens bem delineados em histórias americanas cruéis. Há muito espaço para o indefinido, o complexo e a abstração em suas obras, sem a obrigatoriedade do sentido. Ele dizia: "Não sei por que as pessoas esperam que a arte faça sentido. Elas aceitam o fato de que a vida não faz sentido.”
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