'O Sétimo Selo', filme sueco de 1957 de Ingmar Bergman, é uma obra seminal que reflete sobre a mortalidade e a filosofia existencialista.
Nos anos 1950, Hollywood borbulhava de ideias e produções, pois estava na sua famosa “Era de Ouro”, com produções rentáveis, atuações memoráveis, canções marcantes e histórias impactantes. Entretanto, o cinema mostra, felizmente, que é uma arte extremamente inovadora desde sempre. Isso pode ser entendido com movimentos culturais surgidos poucos anos antes, como o “Expressionismo Alemão”, o “Neorrealismo Italiano”, a “Chanchada Brasileira” e o “Realismo Poético Francês”.
Dentre os cineastas surgidos nesse período, destaca-se o sueco Ingmar Bergman. Nascido no ano de 1918 na Suécia, ele fez questão de apresentar ao mundo um rico cinema existente fora de Hollywood, com tramas que envolvem sentimentalismo, complexidade comportamental de seus personagens, abordagem de temas considerados tabus para a época, e um jeito imersivo de filmar, único a ponto de influenciar a formação de diversos nomes da sétima arte ao longo dos anos, pelo mundo afora. Entre esses filmes, está “O Sétimo Selo”, uma revolucionária película sueca que proporciona um debate magistral sobre vida e morte.
O filme de Bergman, é uma obra cinematográfica seminal, profundamente enraizada na filosofia existencialista e na reflexão sobre a mortalidade humana. Este longa é amplamente considerado um marco no cinema mundial, não apenas pela sua abordagem inovadora da narrativa, mas também pelo seu profundo simbolismo e questionamentos existenciais.
A trama é ambientada na Europa do século XIV, durante a devastadora época da Peste Negra. O protagonista, Antonius Block, interpretado por Max von Sydow, é um cavaleiro que retorna das Cruzadas apenas para encontrar sua fé abalada e seu país assolado pela peste e superstição. Ao ser confrontado pela Morte, personificada por Bengt Ekerot, Block desafia-a para uma partida de xadrez, buscando adiar seu fim inevitável e encontrar respostas para suas dúvidas espirituais.
O xadrez com a Morte torna-se uma metáfora central do filme, simbolizando a luta do homem contra o inevitável. Bergman utiliza esse confronto para promover um debate forte entre vida e morte, ao explorar temas como a fé, a dúvida, o medo da morte e a busca por respostas em um mundo que parece indiferente à existência humana. A partida de xadrez se entrelaça com as histórias de outros personagens, incluindo um grupo de artistas itinerantes e uma jovem acusada de bruxaria, ampliando a reflexão sobre a condição humana e a fragilidade da vida.
Nisso, é preciso mencionar que a presença humanizada da Morte, feita de forma talentosa e icônica por Bengt Ekerot, mostra o quanto a produção conseguiu unir o admirável ao tenebroso de forma hipnótica, deixando os olhos impactados com sua presença e os ouvidos espantados com o som de seus movimentos. Em contraponto, Antonius Block, interpretado por Max von Sydow, propõe ganhar tempo com suas jogadas, que variam de assertivas a duvidosas, para escapar do temível juízo final. Sua atuação é expressiva e marcante, mostrando que ambos os protagonistas trouxeram cenas e diálogos igualmente imortalizados.
Visualmente, "O Sétimo Selo" é marcado por uma cinematografia impressionante. O uso de luz e sombra por Bergman e pelo diretor de fotografia Gunnar Fischer cria uma atmosfera densa e alegórica, refletindo o peso dos temas tratados. A composição de cada cena é meticulosa, com uma atenção aos detalhes que enriquece a narrativa e aprofunda o impacto emocional do filme.
Eles demonstram o quanto a arte pode ser admirável e atemporal. Bergman transforma esse detalhe em uma pintura viva medieval, retratada em uma manifestação existencialista, chocante, filosófica e interessante do 'Danse Macabre' — que em latim significa 'Dança da Morte' —, com ares emocionais bem elevados.
Além disso, é notável por sua abordagem inovadora da narrativa. O diretor se afasta de convenções lineares, optando por uma estrutura que permite uma exploração mais profunda dos personagens e temas. A interpretação dos atores é sublime, capturando a complexidade e a ambiguidade de seus respectivos personagens, tornando a experiência ainda mais envolvente.
"O Sétimo Selo" é também um trabalho profundamente influenciado pelo contexto histórico e cultural da época em que foi feito, refletindo as ansiedades do período pós-guerra e a busca por sentido em um mundo pós-Holocausto. A obra permanece relevante até hoje, ressoando com audiências modernas através de suas questões universais sobre a vida, a morte e a fé. Bergman, que faleceu aos 89 anos em 2007, conseguiu deixar um legado grandioso no cinema. Isso é evidente neste filme, que apresenta com maestria as perspectivas da sua época e as visões profundas de Ingmar sobre os mais diversos temas e dilemas da vida humana.
Em suma, "O Sétimo Selo" é uma obra-prima atemporal do cinema, uma obra que não apenas desafia e engaja seu público, mas também o inspira a contemplar os grandes mistérios da existência humana. Ele é um testamento do poder do cinema como forma de arte, capaz de explorar as profundezas da condição humana com uma combinação única de beleza visual, profundidade filosófica e narrativa poética.
O Sétimo Selo
Ano: 1957
País: Suécia
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman
Elenco: Max von Sydow, Bengt Ekerot, Nils Poppe, Bibi Andersson, Inga Gill, Gunnar Björnstrand.
Duração: 96 min
Comments