Ghost Stories é um disco que parece ter sido feito mais para ocupar o tempo de quem o produziu do que para realmente cativar os ouvintes
Blue Öyster Cult não é exatamente uma banda que precisa de muita apresentação. Formado em 1967, o grupo rapidamente se estabeleceu como um dos grandes nomes do hard rock, com uma trajetória que influenciou gerações de músicos e fãs ao longo das décadas. A versatilidade musical do Blue Öyster Cult é uma de suas marcas registradas, demonstrando uma habilidade única de incorporar diversos estilos em seu hard rock clássico, tais como o acid rock, rock psicodélico, heavy metal e até algumas pitadas de rock progressivo.
Mesmo aqueles que não associam o nome da banda à música, certamente já escutou faixas como Don't Fear the Reaper, Godzilla, e Burnin' for You, que não apenas dominaram as paradas, mas também se tornaram parte da cultura pop, ecoando em filmes, séries de TV e vem sendo constantemente redescobertos por novas gerações. Sem qualquer sombra de dúvidas, sua contribuição ao rock é inegável, mas será que a banda continua a ser uma força significativa e relevante dentro do cenário que ajudou a moldar? Ouvindo seu mais recente disco de estúdio, Ghost Stories, infelizmente a resposta é não.
Ghost Stories é um disco que parece ter sido feito mais para ocupar o tempo de quem o produziu do que para realmente cativar os ouvintes. A sensação predominante ao escutá-lo é a de que ao menos em grande parte, trata-se de uma perda de tempo, uma coleção de faixas que não conseguem deixar uma impressão duradoura ou mesmo minimamente significativa. Embora o álbum não seja necessariamente uma tentativa de trazer algo novo, ele falha até mesmo em capturar uma boa energia que lembre nem que seja de longe a essência encontrada em outrora.
A maioria das músicas carece de inspiração, resultando em um som que parece descompassado e genérico. No entanto, sendo o mais justo possível, nem tudo está perdido. Há momentos esparsos de brilho que emergem em alguns trechos pontuais do disco, pequenos lampejos de criatividade e talento que lembram os ouvintes do potencial que a banda possui. Esses momentos raros são como flores que brotam em um terreno árido, trazendo uma breve, mas necessária esperança de que a banda ainda tem algo a oferecer, mesmo que eu já não acredite mais nisso.
O que acho mais problemático nisso tudo é que Ghost Stories não consiste em composições frescas; é, na verdade, um conjunto de faixas perdidas e inéditas que datam dos anos de 1978 a 1983 e foram gravadas pela atual formação da banda – o que mostra que os caras sequer estão com ânimo de compor – em “parceria” de membros antigos, inclusive, Allen Lanier, falecido em 2013. Acho que na época que as compuseram, eles mesmos sabiam que não estavam à altura do que o grupo estava produzindo. Pode acontecer do álbum prejudicar a reputação da banda? Claro que não, pois a bela história que construíram está lá e não tem como apagar, mas é mais que um sinal de alerta de que tudo tem que ter começo, meio e fim, pra assim, não se arrastar de forma desnecessária.
Quase tudo no álbum parece opaco e sem vida, suave em excesso, fazendo com que qualquer traço das principais características que colocaram a banda no meio das grandes, simplesmente não existisse mais. Apesar de classificado dessa maneira, considero que o chamar de um álbum de hard rock é de certa forma um equívoco.
A falta de energia e a ausência da intensidade característica do hard rock também é algo gritante, me deixando com uma clara sensação de desapontamento. Não há um riff ou solo marcante. Não que eu esteja cobrando de senhores, atitudes rebeldes conhecidas no gênero, mas acontece que na maioria do disco tudo soa preguiçoso e cansativo. Até me pergunto se seria diferente se um álbum tivesse saído na época com todas essas músicas, acho que não, engavetá-las foi a ideia mais acertada.
O cover dos Beatles em If I Feel ficou interessante, enquanto isso, Soul Jive, embora bastante compacta com menos de 3 minutos, entrega um rock que se tivesse sido a abordagem de todo o álbum - ou ao menos a maior parte dele - as coisas poderiam ser vistas de forma diferente, já Kick out the Jam é um cover do MC5 que embora não possua a mesma carga pesada do original, nota-se um esforço genuíno na banda em fazer o seu melhor. Mas o maior acerto de fato fica por conta de Don’t Come Running To Me, a única dessas raridades que realmente valia a pena ser lançada, pois o restante já havia saído na compilação Rarities 1969-1988.
No geral, este álbum é uma seleção de faixas bastante inofensiva, digamos assim. Embora não seja totalmente descartável, tirando Don’t Come Running To Me, em nenhum momento as músicas conseguem de fato gerar uma emoção forte o suficiente para provocar sequer um pequeno espasmo de excitação. Sempre considerei a música como uma forma de escapismo e emoção, logo, quando uma coleção de faixas não consegue provocar essas sensações, pode resultar em uma experiência bastante morna, assim como aconteceu com Ghost Stories.
Ghost Stories
Blue Öyster Cult
Ano: 2024
Gênero: Hard Rock
Ouça: "Soul Jive", "Kick out the Jam", "Don’t Come Running To Me"
Pra quem curte: Thin Lizzy, Alice Cooper, Uriah Heep
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