O novo filme do diretor é baseado no livro The Cabin At The End Of The World de Paul Tremblay.
M. Night Shyamalan é um dos responsáveis por grandes filmes que foram fundamentais para a História da Sétima Arte. Um diretor que ganhou repentinamente uma legião de fãs cinéfilos e que serviu de influência para uma nova geração de diretores. Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000) e Sinais (2002) são produções até hoje citadas e que colocaram o diretor como um dos mais promissores do Cinema nos últimos 30 anos.
Em contrapartida, os últimos filmes do próprio diretor não trouxeram a genialidade e criatividade dele, alguns ficando abaixo da média do que era esperado. Caso de A Dama Na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008). Logo, qualquer novo filme que é anunciado dele chega cercado de expectativas. Estaria Shyamalan perdendo o brilho? Ou então surgirá outro filme que resgate a boa forma dele?
O novo filme do diretor é baseado no livro The Cabin At The End Of The World de Paul Tremblay. A história fala de um casal homossexual que junto com sua filha decidem ir passar as férias numa cabana isolada na floresta. Quando, inesperadamente, recebem a visita de um grupo de estranhos liderados por Leonard (Dave Bautista) e que estão determinados a evitar um apocalipse, mas para isso precisam da cooperação da família.
Convenhamos que ter Dave Bautista atuando num papel diferente do qual geralmente é conhecido (Drax em Guardiões da Galáxia) desperta logo a atenção do espectador. Casas isoladas em florestas, um espaço confinado bem utilizado em filmes de Suspense/Terror, geralmente concedem narrativas angustiantes e tensas a cada cena. Os ingredientes estão ali, falta agora encaixar tudo de forma frenética até o final.
A cena inicial que mostra o encontro de Leonard com a garotinha Wen (Kristen Cui em ótima atuação) até abre espaço para um lado poético, emocional. A inocência e graciosidade de Wen com a altura descomunal de Leonard rende uma passagem delicada, mas logo isso dará espaço a uma tensão maior. O suspense está garantido, sobretudo quando os dois pais se sentem acuados pelo grupo, embora a invasão na casa poderia ser melhor explorada e garantir um tempo maior de Suspense e embate equilibrado entre os personagens.
Em 1999, o filme A Tempestade do Século (1999), inspirado em livro de Stephen King, apresentava um vilão que fazia uma cruel e decisiva exigência aos habitantes da cidade. Batem À Porta traz um dilema semelhante. O quarteto exige que a família de Wen faça uma escolha. Em contrapartida, é uma brutal escolha e isso trará consequências pesadas para muitos personagens.
Embora não seja uma película longa, a trama se arrasta em muitas cenas. Cabe ao espectador ir ligando os fatos. Ilusões? Visões? Flashbacks dos pais de Wen, Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Alridge), surgem na narrativa mas acabam não acrescentando muito conteúdo, embora sejam responsáveis por acrescentar mais carisma aos dois personagens. O quarteto também conta um pouco sobre suas vidas, mas é outra passagem morna no filme.
Sem abusar para a violência extrema ou exagerada, tentando usar ao máximo diálogos entre os personagens com suas emoções à flor da pele, o diretor opta pela guerra psicológica e por alegorias religiosas. Assuntos como espiritualidade, proximidade do fim do mundo, desconfiança, moral, dicotomia entre o que é certo e errado entram na pauta de um filme que sempre parece prestes a explodir na tensão que carrega, embora não seja necessário um banho de sangue para isso.
Andrew mostra-se explosivo e incrédulo, Eric por sua vez é transigente. Essa dualidade de temperamentos também colabora para aumentar a dúvida do espectador sobre o que é verdade e o que é mentira na tela. Aqui não há um conceito pleno de vilania. Temos sim pessoas presas em conflitos emocionais e de difícil resolução, cada uma lutando por aquilo que considera sua verdade diante da possibilidade de eventos catastróficos.
E se o choque maior das produções de Shyamalan acontece geralmente nos instantes finais em reviravoltas e surpresas inesperadas, alguns cinéfilos aqui podem não se contentar por conta de um final previsível. Infelizmente a trama acaba não apresentando mais trunfos ou truques para esconder sua real intenção, inclusive na meia hora derradeira. Mas, de qualquer forma, difícil não ficar até o final para saber quem aceitará os fatos por mais amargos que possam ser.
Batem à Porta
Knock at the Cabin
Ano: 2023
País: EUA
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan, Michael Sherman, Steve Desmond
Elenco: Ben Aldridge, Rupert Grint, Dave Bautista, Nikki Amuka-Bird, Jonathan Groff
Classificação: 16 anos
Duração: 100 min
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