Eduardo Salvalaio

19 de mai de 20224 min

Succession é um conto moderno e realista sobre um magnata da mídia e o império que ele criou.

Foto: IMDB

Sucession ganhou fama pelo mundo e abocanhou várias premiações. Não é por menos. A série da HBO Max tem um elenco estelar, narrativa bem estruturada e trabalha com um tema atual que, direta ou indiretamente, todos compartilham. Estamos falando do universo que envolve mídias, telecomunicações e entretenimento.

Entretanto, mais do que levar o telespectador para o mundo intrincado dos negócios das companhias que controlam as mídias, sobretudo o mundo da TV, a série também mostra como funcionam as relações familiares e empregatícias que circundam esse cenário. Um ambiente muitas vezes hostil, corrosivo e até destrutivo, apesar dos grandes lucros obtidos e da riqueza alcançada.

Succession introduz uma narrativa que trabalha com o humano, expondo toda a ferida que se abre quando ele deseja mais poder, transformando tudo a sua volta e todos que o cercam. O objetivo maior é mostrar um mundo em constante desequilíbrio que gira em torno da influência de um magnata. Como as pessoas lidam com as consequências do poder, da fama e do dinheiro de um homem que cada vez mais se sente impulsionado a ampliar seu império.

Sendo assim, aqui os personagens constituem a cereja do bolo. A começar pelo respeitado patriarca Logan Roy (Brian Cox em ótima atuação). Então, também precisamos conhecer a sua conturbada família: os filhos Roman (Kieran Culkin), Connor (Alan Ruck), Kendall (Jeremy Strong) e Shiv (Sarah Snook).

Embora não despertem a atenção do espectador logo de início, o quarteto recebe um notável desenvolvimento a cada episódio que assistimos, é onde compreendemos o comportamento e as características de cada um, e claro, também as intenções e estratégias para triunfar nesse império midiático que o pai construiu.

Mas família não são apenas filhos. Logan ainda vai ter que se relacionar com seu genro Tom (Matthew Macfayden), um irmão que não o apoia pelo seu modo de vida (James Cromwell no papel de Ewan Roy) e um sobrinho que aparece repentinamente em sua vida (Nicholas Braun no papel de Greg Hirsch). Claro que como líder e chefe de uma empresa gigante com muitas ramificações pelo mundo, Logan também precisa confiar em seus secretários, acionistas, empregados e sócios (que muitas vezes são inseguros e não conseguem se virar sozinhos diante de situações arriscadas).

Bastante centrado no gênero Drama, claro que o seriado não deixa de ter seus momentos de humor e fina ironia (algumas vezes chegando através de diálogos ágeis). Pode apresentar também uma linguagem pesada e até ofensiva em certas ocasiões, sobretudo quando o personagem Roman usa de sua prepotência e sagacidade para ridicularizar algum cliente, se dar bem sobre os outros irmãos e para se esquivar de situações de impasse.

Muitas cenas trazem a tensão familiar representada pelo choque entre os próprios irmãos que, frequentemente, não chegam a um acordo comum. A série começa logo de forma apreensiva quando o próprio Logan tem um mal súbito e vai parar no hospital. É quando o espectador sente o turbilhão e o caos que é presenciar a rotina da família Roy.

A fraqueza emocional e profissional dos filhos os obriga a ver no pai uma pessoa decrépita e senil que não aparenta mais condições físicas e psicológicas de gerenciar o mundo dos negócios. Enquanto uns preferem se afastar e tomar outras decisões, outros veem uma chance de se agarrar ao patriarca, mesmo que de forma hipócrita.

Porém, o espectador está diante de um cenário que ocasionalmente muda passando por constantes reviravoltas, estratégias, surpresas, parcerias e chantagens na corrida contra o tempo de quem vai herdar a presidência da famigerada Companhia Waystar Royco.

A série pode enfastiar um pouco alguns espectadores por conta dos diálogos abundantes e de muitos termos que envolvem administração de empresas, mercado de ações, globalização do mercado, assuntos financeiros. Porém, nada fica pairando no ar sem dar respostas e tudo vai se encaixando no propósito de cada personagem em se dar bem ou até mesmo em ganhar a atenção do pai e dos executivos da empresa.

Constantemente passando na agitada e corrida Nova Iorque, alguns episódios mudam de ares ao levar os personagens para outras localidades. Logo, espere por festas inusitadas e luxuosas, congressos de jornalistas, reunião de empresários, despedida de solteiro e nem mesmo a família Roy durante um conturbado passeio a bordo de um iate luxuoso fica ilesa do espectador.

Usando de belas locações (que envolvem castelos no interior da Inglaterra ou mansões em ilhas gregas), a série dá uma dinâmica maior à narrativa ao fugir um pouco dos diálogos exaustivos e não se concentrar num único ambiente citadino. A família Roy gasta sua fortuna a bordo de diversas viagens e voos de helicóptero, mas cada acontecimento ou passeio muitas vezes termina de forma conflituosa ou inesperada.

A trilha sonora merece destaque. A começar pelo tema de abertura que conquistou os espectadores. O piano dramático e dissonante mixado a uma bateria eletrônica que nos remete a batidas de Hip-Hop formam uma das melhores aberturas de séries destes últimos anos.

Ao criar essa composição marcante, o renomado pianista Nicholas Brittel conseguiu conciliar, sonoramente, o que é o conjunto da série: a tensão e o caos que envolve o universo da família Roy. Tudo está meio disforme, prestes a explodir, só não sabemos o momento certo. Apesar disso, os pilares da companhia se sustentam firmemente.

Em outro episódio, ‘Rape Me do Nirvana aparece oportuna e estrategicamente para dar fortalecimento a um dos personagens e o abalo psicológico por qual estava passando. Tudo de forma impactante para o contexto da narrativa, formulando assim, um episódio inesquecível e um elo de ligação para poder fechar a temporada (sem mais spoilers para não estragar a cena em si).

Mad Men girava em torno do ambiente da publicidade, mas não fez disso uma temática única e repetitiva até o final. Explorou também, criativamente, questões sobre família, sociedade, envelhecimento, lealdade, vícios e poder. Hoje em dia, é Succession que cumpre esse objetivo.

O roteirista Jesse Armstrong fala do mundo globalizado, do capitalismo, da tecnologia e das mídias em nossas vidas, das pompas da riqueza e das armadilhas que elas criam para o alcance de poder. Mas também há espaço para citar a importância da humanidade, da irmandade, do perdão e por quê não da família? Não há como fugir disso, então talvez seja por esse motivo que o espectador se aproxima bastante com a narrativa.

A série tem 3 temporadas até o momento, num total de 29 episódios, cada um durando aproximadamente 1 hora. A HBO já confirmou a quarta temporada, porém não revelou mais detalhes.


Succession

Em andamento (2018-)

Criado por: Jesse Armstrong

Distribuição: HBO

Temporadas: 3

Mais informações: IMDB


NOTA DO CRÍTICO: 8,5


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